Os heróis das lendas ocidentais encararam uma grande variedade de demônios e monstros, mas só uns poucos ousaram desafiar o mais poderoso de todos — o enorme dragão que cospe fogo.
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Os heróis das lendas ocidentais encararam uma
grande variedade de demônios e monstros, mas só uns poucos ousaram desafiar o
mais poderoso de todos — o enorme
dragão que cospe fogo. Mais do que um triunfo adicional no currículo do herói,
o dragão representa, em muitas histórias, a etapa conclusiva na busca da
glória. Portanto, enfrentar o temperamental Rabo-Córneo Húngaro é um desafio
adequado para Harry, em sua busca da vitória no Torneio Tribruxo.
Os dragões foram personagens de destaque no mito
e no folclore durante a maior parte da história. No Ocidente apareceram em
antigos escritos da Babilônia, Egito, Grécia, Roma, Alemanha, Escandinávia e
Ilhas Britânicas. A lista de guerreiros que combateram os dragões mais parece
um catálogo de heróis. O herói grego e romano Hércules deu cabo de muitos
dragões em sua longa carreira, entre os quais a famosa Hidra, com nove cabeças
mortíferas. Diversos guerreiros babilônios combateram Tiamat, dragão conhecido
como Rainha das Trevas, com cabeça e patas dianteiras de leão, patas traseiras
de águia, asas emplumadas e corpo coberto de escamas, invulnerável a todas as
armas. Thor, o deus do trovão nórdico, sucumbiu ao veneno da Serpente Midgard,
dragão enorme que circundava a Terra inteira, mas não sem ter antes desferido
um golpe fatal na criatura. Beowulf, considerado um dos primeiros heróis da
literatura inglesa, também encontrou a morte ao matar um dragão, e os
cavaleiros medievais consideravam a caça aos dragões como um passatempo bastante
comum.
A descrição física dos dragões
se mantém quase igual em todas as histórias. Representados, em geral, como
serpentes gigantescas (a palavra grega drakon significa "grande
serpente"), os dragões costumavam ser revestidos de escamas impenetráveis e munidos de um ou dois pares de
pernas e de asas semelhantes às do morcego. A maioria tinha cabeça em forma de
cunha e caninos compridos, às vezes venenosos. Alguns também ostentavam um par
de chifres, garras enormes e um rabo com esporões, ou então bifurcado. Os
dragões galeses eram, não raro, vermelhos; os dragões alemães, brancos, e os
outros dragões, pretos ou amarelos.
Quase todos os dragões
tinham uma coisa em comum — seu hálito de fogo. As enormes bolas de fogo que
essas criaturas podiam lançar, em baforadas, eram mais do que um simples risco
para os cavaleiros destemidos: dizia-se que elas podiam devastar países
inteiros! E quando um herói se mostrava esperto o bastante para evitar as
chamas e matar seu inimigo, um dragão ainda podia ser perigoso, mesmo depois
de morto. Dizia-se que tocar no sangue do dragão provocava a morte e que, se os
dentes do dragão fossem plantados no solo, faziam brotar guerreiros sanguinários
armados.
Uma fera tão ameaçadora só podia
mesmo ser vista como um inimigo natural da humanidade. Dizia-se que os dragões
eram criaturas astutas, comilonas e cruéis, que moravam em cavernas enormes ou
em crateras de vulcões, bem como em oceanos e lagos. Periodicamente, matavam
sua fome comendo rebanhos inteiros ou então devorando pessoas. Em muitas
lendas, um dragão raptava uma donzela e sumia com ela, às vezes para devorá-la,
ou apenas para gozar de sua companhia. Embora não tivessem nenhuma necessidade
de dinheiro, os dragões também eram famosos por sua ganância, guardando
enormes quantidades de ouro, prata e outras riquezas. (Os dragões do mar
gostavam de acumular pérolas.) Dizia-se que o dragão conhecia a composição
exata de seu tesouro e percebia imediatamente, reagindo com violência, se uma
simples moeda fosse retirada.
Na Idade Média, os dragões foram
associados à serpente bíblica que fez com que Adão e Eva fossem expulsos do
Jardim do Éden. Os dragões foram então descritos e pintados como representantes
do pecado, da maldade e às vezes do próprio Diabo. A clássica luta do cavaleiro
contra o dragão representava, portanto, a batalha mais ampla do bem contra o
mal. Dizia-se que muitos santos cristãos haviam enfrentado dragões. Um dos mais
famosos foi São Jorge, que, segundo a lenda, viajava perto de Silena, na Líbia,
quando ouviu falar do dragão que habitava um lago na região. A exemplo de
muitos outros, esse dragão adorava devorar donzelas e não permitia que o povo
tivesse acesso à única fonte de água da região, a menos que lhe dessem uma
donzela por dia. Exércitos inteiros morreram massacrados na tentativa de
combater a criatura. No dia em que São Jorge chegou, a filha do rei, a única
donzela que ainda restava, ia ser sacrificada. São Jorge imediatamente se
ofereceu para combater o dragão e conseguiu matá-lo com um só golpe de sua
lança.
O êxito de São Jorge foi muito admirado,
sobretudo depois que se tornou santo padroeiro da Inglaterra, no século XIV. Os
dragões ficaram ligados ao cavalheirismo e ao romance. Qualquer um dos
cavaleiros retratados na literatura tinha que matar ao menos um monstro
cuspidor de fogo e salvar uma donzela formosa para ser considerado um herói
autêntico. Nas lendas do rei Arthur, Lancelot e Tristão, às vezes citados como
os mais nobres cavaleiros da Távola Redonda, mataram dragões. A tradição afirma
que foram essas pessoas de espírito destemido, ávidas de dar provas da sua fé
cristã e de seu heroísmo, que levaram os dragões à extinção. É claro, contudo,
que Carlinhos Weasley tem uma outra versão para essa história.
Pedra Filosofal, 14
Os dragões do Oriente
Qualquer dragão
que voasse da Europa para a China ou Japão sofreria um tremendo choque
cultural. Em vez de odiado, temido e atacado, seria recebido com sorrisos e
gestos de boas-vindas. No Oriente, o dragão sempre foi visto como uma criatura
benévola e um sinal de sorte.
Diferentes de seus primos ocidentais, os
dragões
orientais não bafejam chamas nem têm asas, embora em geral possam voar por meio
da magia. Um dragão oriental típico tem chifres de cervo, cabeça de camelo,
pescoço de cobra, garras de águia, orelhas de touro e costeletas. Nas lendas
chinesas há dragões que protegem o céu, dragões que trazem a chuva e dragões
que controlam rios e córregos. No Japão, onde costumam ser considerados
sábios, bondosos e prestativos, os dragões serviram durante séculos como
emblema oficial da família imperial.
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