sexta-feira, 9 de novembro de 2012

O MANUAL DO BRUXO - ALLAN ZOLA KRONZEK - 18







À primeira vista, um caldeirão pode parecer apenas uma enorme panela. [...] De posse de um caldeirão, uma bruxa, ou um mago experiente, pode preparar poções, predizer o futuro, fornecer um suprimento inesgotável de comida a um número ilimitado de convidados, assegurar a juventude e a força ou conferir o conheci­mento e a sabedoria.



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À primeira vista, um caldeirão pode parecer apenas uma enorme panela. Mas nas mãos certas (ou erradas), ele pode converter-se num artefato de poder extraordinário. De posse de um caldeirão, uma bruxa, ou um mago experiente, pode preparar poções, predizer o futuro, fornecer um suprimento inesgotável de comida a um número ilimitado de convidados, assegurar a juventude e a força ou conferir o conheci­mento e a sabedoria.
Os caldeirões mais antigos eram de muitos formatos e tamanhos. Eram feitos de cobre, bronze, estanho (como o de Harry), pedra e, mais tarde, de ferro fundido. Nos tempos medievais, o caldeirão era o centro de quase todas as atividades domésticas. Era usado para cozinhar, preparar remédios por infusão, lavar e secar roupas, fazer sabão e velas, e ainda servia para transportar tanto água como fogo. Uma família grande podia possuir um único caldeirão, usado para todos esses fins.
Em certas culturas, os caldeirões faziam parte dos rituais religiosos. Os antigos celtas agradavam seus deuses com oferendas de refinadas jóias de ouro e de prata, que punham dentro de um caldeirão, posterior­mente mergulhado num lago ou rio. Alguns romanos felizardos desco­briram e pilharam um caldeirão desse tipo num lago na França, séculos atrás. O famoso caldeirão de Gundestop, descoberto num pântano na Dinamarca, em 1891, é quase todo feito de prata pura, com figuras que representam deuses, plantas e animais fantásticos. Data do século I a.C. e provavelmente foi usado para sacrifícios humanos.
A utilidade mais conhecida dos caldeirões, no entanto, é servir de instrumento para as bruxas. Essa associação remonta a épocas muito antigas. Na mitologia grega, a bruxa Medéia prometeu ao marido prolongar a vida do pai dele, idoso e fraco. Misturou, em um caldeirão, ervas mágicas com partes de "animais agarrados à vida" (especialmente as tartarugas), depois cortou a garganta do velho e verteu a sua mistura dentro do ferimento. A poção de Medéia permitiu a seu sogro recuperar o vigor da juventude.
Talvez o caldeirão mais famoso da história seja o que pertenceu ao trio de bruxas que ajudou a levar Macbeth, o famoso personagem de Shakespeare, à sua desgraça. Coagidas por Macbeth a predizer o seu futuro, as bruxas prepararam um caldo nada apetitoso, jogando no seu caldeirão três escamas de dragão, um bucho de tubarão, uma perna de lagartixa e mais dois ingredientes clássicos em poções, um olho de Sala­mandra e um dedo de rã. Com esse cozido bizarro e o famoso encanta­mento "Dobre e mergulhe, torça e embrulhe, fogo arda e caldeirão bor­bulhe", as bruxas invocaram três espíritos que apresentaram profecias precisas, mas astutamente enganadoras.


A ligação entre bruxas e caldeirões remonta à Grécia e Roma antigas.
Aqui vemos uma velha bruxa instruindo sua aprendiz na arte de preparar poções.

O caldeirão também aparece com destaque na mitologia galesa, irlan­desa e celta, nas quais é considerado um objeto mágico dotado de poder sobre a vida. A boca do caldeirão é vista como o portão para o mundo subterrâneo, de onde emerge a vida nova e para onde os mortos retor­nam. Acreditava-se que o caldeirão de Pwyll, soberano galês do mundo subterrâneo, tornava as pessoas imortais. Algumas lendas sugerem que o rei Artur e seu cavaleiros tentaram, certa vez, roubar esse caldeirão. A lenda também afirma que o herói irlandês Bran possuía um caldeirão com o poder de trazer os mortos de volta à vida, e que depois foi dado de presente ao rei da Irlanda. Esse rei maldoso, então, usou o caldeirão mágico para criar um exército inesgotável de soldados zumbis. Esses sol­dados eram mudos, a fim de evitar que revelassem os segredos do além. Relatos de batalhas descrevem como várias partes do corpo dos solda­dos amputadas em combate eram jogadas dentro do caldeirão, de onde os corpos emergiam logo em seguida, inteiros e prontos para mais uma batalha. O rei irlandês só foi derrotado quando o meio-irmão de Bran saltou para dentro do caldeirão, sacrificando a própria vida para destruir o recipiente, que não estava preparado para receber seres vivos.
Um exército arregimentado desse modo talvez nunca fosse derrota­do, pois novos guerreiros poderiam ser criados continuamente a partir dos restos mortais dos guerreiros abatidos. Para magos honestos, já é bem complicado defender-se das forças do mal que respiram e vivem. O perigo é bem pior quando inimigos derrotados muito tempo atrás podem estar, neste exato momento, despertando e, lentamente, voltan­do à vida, saídos de um caldeirão escuro.


Pedra Filosofal, 5





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