quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

O MANUAL DO BRUXO - ALLAN ZOLA KRONZEK - 46







Fruto de uma rara união entre um grifo macho (metade águia, metade leão) e uma égua, diz-se que o hipogrifo foi a montaria predileta dos ca­valeiros de Carlos Magno, guerreiros dos séculos VIII IX, cujas aven­turas [...].



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Hermione e Harry nem tinham idéia da nobre tradição a que se uni­ram quando montaram Bicudo, o adorado hipogrifo de Hagrid. Fruto de uma rara união entre um grifo macho (metade águia, metade leão) e uma égua, diz-se que o hipogrifo foi a montaria predileta dos ca­valeiros de Carlos Magno, guerreiros dos séculos VIII e IX, cujas aven­turas foram contadas e romanceadas por escritores dos séculos seguintes. Embora o hipogrifo, nesses contos heróicos, seja visto como um ani­mal raro mas verdadeiro, a fera alada foi inventada por volta de 1516, por Ludovico Ariosto, autor do poema épico italiano Orlando Furioso, que narra as façanhas de diversos cavaleiros de Carlos Magno. Como um grifo, o hipogrifo de Ariosto tem cabeça e bico de águia, patas dianteiras de leão, garras de ave e asas emplumadas, ao passo que o resto do corpo é de cavalo. Originalmente domado e treinado pelo mágico Atlante, o hipogrifo pode voar mais alto e mais depressa do que qualquer pássaro, zunindo de volta para a terra na velocidade de um raio, quan­do seu cavaleiro deseja aterris­sar. Mesmo cavaleiros que nor­malmente não sentem medo de nada acham isso um pouco assustador, mas se deliciam com a capacidade que esse corcel tem de planar facilmente de um lado do mundo para o outro.


Embora o hipogrifo goste de brincar com as pessoas que tentam cap­turá-lo, voando para fora de alcance no momento exato em que a pessoa vai segurar suas rédeas, quando montado ele se revela um parceiro leal e disposto a cooperar. Nas mãos do cavaleiro Rogério, o hipogrifo voa por cima dos Alpes, da Itália para a Inglaterra, onde assombra e encanta uma multidão de soldados e fidalgos, ao aterrissar no meio deles, numa planí­cie. Ao decolar novamente, Rogério e sua montaria seguem para a Irlanda, onde descobrem a linda donzela Angelina sob as garras de um tenebroso monstro do mar. Ao ver a sombra das asas do hipogrifo sobre a água, o monstro abandona sua presa em troca de algo maior e mais saboroso. Quando o hipogrifo salta habilmente e se esquiva, Rogério desarma o monstro com o brilho ofuscante de um escudo mágico. Rogério e Angelina pulam nas costas do hipogrifo e — de um modo bem parecido com Harry e Hermione - partem em busca de novas aventuras.


Prisioneiro de Azkaban, 6



ANIMAIS SOB JULGAMENTO

Por mais que condenemos o Comitê de Controle de Criaturas Perigosas por acusar e processar o Bicudo, não po­demos acusá-los de ter inventado esse costume curioso. Na Europa, na Idade Média e no início da era moderna, os ani­mais domésticos, bem como os insetos, os roedores e outras pragas comuns, eram freqüentemente acusados de crimes (em geral, assassinato ou destruição de propriedade priva­da), detidos, aprisionados, processados, sentenciados e às vezes executados. Existem atas de julgamentos cuidadosa­mente guardadas desde o século IX até o século XIX, com o relato de processos movidos contra lagartas, moscas, gafa­nhotos, sanguessugas, caracóis, lesmas, minhocas, ratazanas, camundongos, toupeiras, pombos, porcos, galos, cães, mulas, cavalos e bodes.
No caso dos insetos, o crime era geralmente a destruição de plantações. Como era impossível intimar um enxame de gafanhotos, capturava-se um deles, designava-se um advoga­do do próprio tribunal e o bicho tinha de responder um processo em nome de todos os demais. Se fosse julgado cul­pado, todos os gafanhotos recebiam ordem de deixar a cidade, o que eles acabavam fazendo, em algum momento -embora não por ordem do tribunal!
Animais grandes o bastante para serem presos ficavam confinados nas mesmas prisões dos seres humanos e recebiam o mesmo tratamento. Do mesmo modo que faziam com as pessoas, as autoridades torturavam os animais para arrancar confissões. Embora ninguém esperasse que um bicho fosse confessar alguma coisa, a tortura fazia parte do processo judiciário normal e certos juizes acreditavam ter o dever de providenciar a tortura. No fim, isso pode ter até beneficiado alguns animais, pois os acusados que não confessavam sua culpa sob tortura muitas vezes tinham suas penas reduzidas. As penas também podiam ser reduzidas ou canceladas em conseqüência de uma apelação apresentada a um tribunal superior. Num caso do qual temos detalhes, um porco e um burro condenados à forca conseguiram se safar com um sim­ples tapa na cabeça, depois que um novo juiz reviu o caso deles. Mas, para os animais cuja apelação fracassava, a única esperança era ter um bom amigo que viesse libertá-los, como aconteceu com Bicudo.







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