Fruto de uma rara união entre um grifo macho (metade águia, metade leão) e uma égua, diz-se que o hipogrifo foi a montaria predileta dos cavaleiros de Carlos Magno, guerreiros dos séculos VIII e IX, cujas aventuras [...].
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Hermione e Harry nem tinham idéia
da nobre tradição a que se uniram quando montaram Bicudo, o adorado hipogrifo
de Hagrid. Fruto de uma rara união entre um grifo macho (metade águia, metade
leão) e uma égua, diz-se que o hipogrifo foi a montaria predileta dos cavaleiros
de Carlos Magno, guerreiros dos séculos VIII e
IX, cujas
aventuras foram contadas e romanceadas por escritores dos séculos seguintes.
Embora o hipogrifo, nesses contos heróicos, seja visto como um animal raro mas
verdadeiro, a fera alada foi inventada por volta de 1516, por Ludovico Ariosto,
autor do poema épico italiano Orlando Furioso, que narra as façanhas de
diversos cavaleiros de Carlos Magno. Como um grifo, o hipogrifo de Ariosto tem
cabeça e bico de águia, patas dianteiras de leão, garras de ave e asas
emplumadas, ao passo que o resto do corpo é de cavalo. Originalmente domado e
treinado pelo mágico Atlante, o hipogrifo pode voar mais alto e mais depressa
do que qualquer pássaro, zunindo de volta para a terra na velocidade de um
raio, quando seu cavaleiro deseja aterrissar. Mesmo cavaleiros que normalmente
não sentem medo de nada acham isso um pouco assustador, mas se deliciam com a
capacidade que esse corcel tem de planar facilmente de um lado do mundo para o
outro.
Embora o hipogrifo goste de brincar com as
pessoas que tentam capturá-lo, voando para fora de alcance no
momento exato em que a pessoa vai segurar suas rédeas, quando montado ele se
revela um parceiro leal e disposto a cooperar. Nas mãos do cavaleiro Rogério, o
hipogrifo voa por cima dos Alpes, da Itália para a Inglaterra, onde assombra e
encanta uma multidão de soldados e fidalgos, ao aterrissar no meio deles, numa
planície. Ao decolar novamente, Rogério e sua montaria seguem para a Irlanda,
onde descobrem a linda donzela Angelina sob as garras de um tenebroso monstro
do mar. Ao ver a sombra das asas do hipogrifo sobre a água, o monstro abandona
sua presa em troca de algo maior e mais saboroso. Quando o hipogrifo salta
habilmente e se esquiva, Rogério desarma o monstro com o brilho ofuscante de um
escudo mágico. Rogério e Angelina pulam nas costas do hipogrifo e — de um modo
bem parecido com Harry e Hermione - partem em busca de novas aventuras.
Prisioneiro de Azkaban, 6
ANIMAIS SOB JULGAMENTO
Por mais que condenemos o Comitê
de Controle de Criaturas Perigosas por acusar e processar o Bicudo, não podemos
acusá-los de ter inventado esse costume curioso. Na Europa, na Idade Média e no
início da era moderna, os animais domésticos, bem como os insetos, os roedores
e outras pragas comuns, eram freqüentemente acusados de crimes (em geral,
assassinato ou destruição de propriedade privada), detidos, aprisionados,
processados, sentenciados e às vezes executados. Existem atas de julgamentos
cuidadosamente guardadas desde o século IX até
o século XIX, com o relato de processos movidos contra lagartas, moscas, gafanhotos,
sanguessugas, caracóis, lesmas, minhocas, ratazanas,
camundongos, toupeiras, pombos, porcos, galos, cães, mulas, cavalos e bodes.
No caso dos insetos, o crime era
geralmente a destruição de plantações. Como era impossível
intimar um enxame de gafanhotos, capturava-se um deles, designava-se um advogado
do próprio tribunal e o bicho tinha de responder um processo em nome de todos
os demais. Se fosse julgado culpado, todos os gafanhotos recebiam ordem de
deixar a cidade, o que eles acabavam fazendo, em algum momento -embora não por
ordem do tribunal!
Animais grandes o bastante para serem
presos ficavam confinados nas mesmas prisões dos seres humanos e recebiam o mesmo
tratamento. Do mesmo modo que faziam com as pessoas, as autoridades torturavam
os animais para arrancar confissões. Embora ninguém esperasse que um bicho
fosse confessar alguma coisa, a tortura fazia parte do processo judiciário normal
e certos juizes acreditavam ter o dever de providenciar a tortura. No fim, isso
pode ter até beneficiado alguns animais, pois os acusados que não confessavam
sua culpa sob tortura muitas vezes tinham suas penas reduzidas. As penas também
podiam ser reduzidas ou canceladas em conseqüência de uma apelação apresentada
a um tribunal superior. Num caso do qual temos detalhes, um porco e um burro
condenados à forca conseguiram se safar com um simples tapa na cabeça, depois
que um novo juiz reviu o caso deles. Mas, para os animais cuja apelação
fracassava, a única esperança era ter um bom amigo que viesse libertá-los, como
aconteceu com Bicudo.
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