Há muito tempo que os gatos têm sido associados à magia e ao sobrenatural. [...] Em certas regiões da Escócia, essa crença era tão forte que muita gente se recusava a tratar de questões importantes de família na presença de um gato, com medo de que, mais tarde, uma bruxa pudesse usar contra eles o que tivessem falado.
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Por mais bondosa que a velha e grisalha
Sra. Norris possa parecer aos olhos de um forasteiro, nenhum aluno de Hogwarts
consegue sentir-se inteiramente à vontade na presença da gata de estimação
de Argus Filch. Ela está sempre alerta a qualquer sinal de mau comportamento e
parece dotada de uma fantástica capacidade de trocar informações com seu
mestre, sem dar sequer um simples miado.
Há muito tempo que os gatos têm sido
associados à magia e ao sobrenatural. No século XVI eram
amplamente conhecidos como companheiros das bruxas e, a exemplo da Sra.
Norris, desconfiava-se que tinham a capacidade de se comunicar com seus donos.
Em certas regiões da Escócia, essa crença era tão forte que muita gente se
recusava a tratar de questões importantes de família na presença de um gato,
com medo de que, mais tarde, uma bruxa pudesse usar contra eles o que tivessem
falado.
Segundo certas teorias, porém,
os gatos eram mais do que meros espiões das bruxas - eram bruxas disfarçadas.
Nicholas Remy, um juiz do século XVI que presidiu centenas de julgamentos por
crime de bruxaria, garantiu que quase todas as bruxas que haviam passado por
ele transformavam-se facilmente em gatos quando queriam entrar na casa dos outros.
Mas, ao contrário da professora McGonagall, que consegue se transformar em gato
quando bem entende, as bruxas históricas, segundo diziam, só eram capazes de
realizar esse prodígio nove vezes - isso porque os gatos supostamente têm nove
vidas.
A função mais comum que cabia a um gato de
bruxa era a de um "familiar" (ver Bruxas). Antes um criado do
que um bicho de estimação, um familiar era considerado um demônio menor,
providenciado pelo Diabo para
cumprir qualquer tarefa nefasta que uma bruxa pudesse imaginar, desde azedar o
leite até
destruir um rebanho, causar doenças crônicas ou mesmo a morte dos seus
inimigos. Num julgamento do século XVI, uma bruxa confessa afirmou que seu gato,
Satã, lhe falava com uma voz cava e estranha, arranjou para ela um marido rico,
fez com que ele ficasse manco e matou o seu filho de seis meses, atendendo as
ordens dela. No oeste da Inglaterra, testemunhas afirmaram ter visto uma mulher
conhecida como "a malvada bruxa negra de Fraddam" cavalgando pelo
céu montada num enorme gato preto, toda vez que saía para procurar venenos e
ervas mágicas. Como as histórias desse tipo se espalhavam rapidamente, não é
de admirar que as pessoas vivessem apavoradas com os gatos, assim como viviam
com medo das bruxas, e tratassem esses animais com a mesma crueldade.
Porém, antes de serem temidos, os gatos foram
adorados. Os antigos egípcios foram os primeiros a ter gatos como animais de
estimação e, com o tempo, os gatos viraram objetos de devoção religiosa. Isso
começou em torno de 2000 a.C, quando a deusa Bastet, em geral retratada com o
corpo de uma mulher e a cabeça de um gato, era cultuada como a personificação
da fertilidade e da cura. Segundo o historiador grego Diôdoros Sículo, os
gatos destinados a viver em templos eram mimados com refeições de pão, leite e
postas de peixe do Nilo, e até os seus tratadores ocupavam uma posição elevada
na comunidade. Por fim, todos os gatos passaram a ser vistos não apenas como
símbolos da deusa Bastet, mas como deuses propriamente ditos. Matar um gato,
mesmo por acidente, era um crime passível de pena de morte e, quando o gato da
família morria de causas naturais, todos na casa raspavam as sobrancelhas em
sinal de luto. Milhares de amuletos de gato eram fabricados e vendidos. Essa
adoração pelos gatos não terminava nem mesmo quando eles morriam. Era
importante enterrar um gato com grande respeito, coisa que, naquele tempo,
significava embrulhar seu corpo como uma múmia (acreditava-se que a mumificação
permitia que os mortos regressassem à vida). No verão de 1888, um lavrador
egípcio que escavava sua terra desenterrou um grupo de múmias de gato de dois
mil anos de idade que repousavam logo abaixo da areia do deserto - 300.000
múmias de gato! Foi descoberto
depois que esse era apenas um entre muitos antigos cemitérios
de gatos existentes no Egito.
Por que os gatos foram tão
fervorosamente amados e odiados? Muitas superstições relacionadas aos gatos
podem facilmente ser ligadas a observações que refletem algumas verdades
bastante elementares sobre esses animais. A exemplo de Bichento, o gato de
Hermione, a maioria dos felinos detesta ratos. Alguns dizem que o culto egípcio
ao gato tinha origem no fato de os gatos protegerem os celeiros e outros locais
onde se estocava comida contra o ataque de roedores. Além disso, tendo
observado que os gatos matavam víboras mortíferas, os egípcios passaram a crer
que o gato era o inimigo natural da cobra, um símbolo tradicional do mal. A
excelente visão do gato à noite e o brilho misterioso da luz refletida em seus
olhos criaram a idéia de que os gatos eram clarividentes: se conseguiam
enxergar no escuro, por que não poderiam também ler os pensamentos ou prever o
futuro? A eletricidade estática nos pêlos dos gatos - que muda quando o ar fica
mais seco ou mais úmido -foi entendida como uma capacidade de prever mudanças
climáticas. E a tendência comum dos gatos de parecerem reservados e
indiferentes em relação aos humanos levou certas pessoas a vê-los como
criaturas "do outro mundo", dotadas de vidas secretas, ou como
trapaceiros ardilosos, à espera do melhor momento para dar um bote num bebê
adormecido ou transmitir uma conversa entreouvida. Portanto, se você às vezes
gosta de acariciar a cabeça de um gato ronronante e de pêlo macio e cochichar
um segredo na sua orelha, pense duas vezes: talvez seja melhor contar seus
segredos para um cachorro.
Pedra Filosofal, 8
Muita gente acha os gatos fascinantes e o
folclore está cheio de histórias que atribuem um sentido às
mínimas coisas que um gato é capaz de fazer. Segundo uma lenda, quando um gato
se mostra brincalhão, é sinal de chuva. Outra lenda diz que só chove quando o
gato esfrega a pata nas duas orelhas, ao se lavar. Quando o gato esfrega os
bigodes é sinal de que vão chegar visitas, mas quando ele estica as patas na
direção da lareira é sinal de que as pessoas que se aproximam da casa não são
conhecidas. Quando o gato espirra perto da noiva no dia do casamento é sinal de
um casamento feliz, mas três espirros significam resfriado para todos da casa.
Você por acaso quer saber se gatos pretos podem dar azar? Saiba que isso
depende de onde você mora. Os americanos tendem a evitar gatos pretos, mas, na
Inglaterra, as pessoas acham que eles dão sorte. Nos tempos da rainha
Elizabeth, os gatos mais freqüentemente associados às bruxas não eram nem os
gatos pretos nem os brancos, mas sim os rajados. Ninguém consegue explicar
inteiramente como as cores dos gatos entraram e saíram de moda ao longo dos
séculos. Assim, talvez seja mais seguro seguir a tradição galesa, segundo a
qual quem tem mais sorte são os que têm em casa ao mesmo tempo um gato preto e
um gato branco.
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