Os gigantes estão presentes nos primeiros mitos de criação de numerosas culturas, muitas vezes como uma raça de seres enormes que existiram antes mesmo do que os deuses.
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Nem sempre é fácil carregar o peso
da reputação de seus ancestrais. É sem dúvida por isso que a enorme Madame
Maxime insiste em dizer que não é uma giganta - apenas tem "ossos
grandes". Os gigantes têm uma reputação ancestral de agirem de forma cruel
sem motivos e, como Hagrid acaba percebendo, a maioria dos humanos não convive
bem com eles.
Os gigantes estão
presentes nos primeiros mitos de criação de numerosas culturas, muitas vezes
como uma raça de seres enormes que existiram antes mesmo do que os deuses. A
mitologia grega fala dos Titãs, gigantes altos como montanhas e de força
tremenda. Nascidos da união da Terra com o Céu, eram medonhos, com caras
peludas, pés escamosos e, em certos casos, várias cabeças. Numa luta pela
supremacia, os Titãs travaram uma guerra tão violenta contra os deuses do
Olimpo que o universo quase foi destruído. Com a ajuda de Hércules, filho
mortal de Zeus, os deuses acabaram vencendo a batalha e mataram ou prenderam
todos os Titãs.
Os gigantes desempenham um papel
semelhante na mitologia escandinava, na qual os Gigantes Congelados, liderados
pelo pérfido
Thrym (cujo nome significa "tumulto"), foram os inimigos fundamentais
de Thor e dos demais deuses. Nas lendas celtas dizia-se que gigantes malvados
chamados Fomorianos tinham sido os primeiros habitantes da Irlanda e, em certos
contos, eram associados ao inverno, à neblina, às tempestades, às doenças e às
colheitas ruins. O Velho Testamento também menciona uma raça de gigantes, fruto
da união antinatural de anjos caídos com humanos. Os gigantes bíblicos, no entanto,
não são tão grandes quanto os outros da mitologia. O gigante Golias, famoso por
ter sido morto por Davi com uma funda, tinha "apenas" dois metros e
noventa.
O folclore inglês,
durante muito tempo, reservou um lugar especial para os gigantes, talvez em
função da sua importância nos mitos de fundação do país. Geoffrey de Monmouth,
na História dos Reis da Grã-Bretanha (que na verdade não é um relato
histórico verdadeiro, mas sim histórias dos primórdios lendários da
Grã-Bretanha), fala de uma raça de gigantes de três metros e sessenta, capazes
de arrancar árvores do solo, pela raiz, como se fossem ervas daninhas num
jardim. Segundo Geoffrey, esses gigantes reinaram na Inglaterra até serem
derrotados pelos exércitos de Brutus, o fundador mitológico da raça britânica
e bisneto do herói troiano Enéias.
Durante a Idade Média,
os gigantes se equipararam aos dragões como oponentes dignos dos cavaleiros
andantes, que buscavam glória e aventura. Nas lendas do rei Artur e outras
histórias épicas, os gigantes representam tudo o que há de mau no mundo: são
sanguinários, avarentos, glutões e cruéis. Raptam mulheres, roubam dos
vizinhos, matam crianças e às vezes até comem gente. Assim, matar um gigante é
um ato de honra e de bondade. Em Le Morte d'Arthur (A morte de Artur),
escrito por Sir Thomas Malory, publicado em 1485, Sir Lancelot dá prova da sua
honra ainda muito jovem matando um par de gigantes malvados que mantiveram
três donzelas como escravas durante sete dolorosos anos. O cavaleiro Marhaus
conquista a riqueza e a gratidão de seus pares ao matar o gigante Taulard e
libertar nada menos do que vinte e quatro donzelas e doze cavaleiros cativos. E
o próprio rei Artur se revela o mais talentoso matador de gigantes, derrotando
o gigante do monte Saint-Michel, um canibal que derrotara quinze reis e vestia
um casaco bordado com os pêlos das barbas deles.
Os gigantes continuaram a ocupar um amplo
espaço
na imaginação popular muito depois da época da cavalaria andante haver
terminado. Nos séculos XVIII e XIX, homens
enormes, com um apetite enorme - e, em muitos casos, um desejo ardente de ter
esposas de tamanho normal -, viraram rotina nos contos do folclore europeu.
Entre eles, os mais conhecidos eram os que envolviam um jovem corajoso, ainda
que um pouco descuidado, chamado João. Em "João, Matador de
Gigantes", uma história que apareceu impressa pela primeira vez no século XIX mas
se passava no tempo do rei Arthur, João
é o filho de um lavrador inglês e faz carreira enganando gigantes. Sua primeira
vítima foi um gigante de cinco metros e meio, chamado Cormoran, que andava
aterrorizando os arredores da Cornualha, roubando e devorando tantas ovelhas,
porcos e bois que as pessoas acabaram ficando pobres e famintas. João cavou um
buraco bem fundo, que ele cobriu com ramos e folhas, depois atraiu o gigante,
que caiu lá dentro, para em seguida ser morto por João. Uma série de vitórias
semelhantes rendeu muitas recompensas para João, inclusive uma grande
propriedade e a mão da filha do duque. Em "João e o Pé de Feijão", um
João bem diferente enfrenta um gigante que mora num castelo nas nuvens (no topo
do pé de feijão, é claro) e diz as famosas palavras: "Um, dois, três,
sinto cheiro de um inglês", enquanto um João trêmulo está escondido ali
perto.
Uma história tão longa de mau
comportamento não pode, seguramente, ser atribuído apenas a dois ou três
indivíduos mal-intencionados, portanto é difícil censurar os pais de Hogwarts
quando ficam preocupados com o fato de seus filhos estarem tendo aula com um
semigigante. Mas, conforme Alvo Dumbledore parece saber, julgar um indivíduo
pela reputação da espécie a que ele pertence pode ser enganoso. Em muitas
histórias modernas os gigantes são criaturas bondosas que ajudam e protegem
humanos de tamanho normal, sobretudo crianças. Eles podem sofrer por
deformidades físicas devido a seu tamanho, ou se sentirem isolados, estranhos
ou discriminados. Já conhecemos alguns gigantes que são bons, e talvez haja
outros por aí. Se os planos de Dumbledore funcionarem, talvez a gente logo
descubra.
Cálice
de Fogo, 23
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