Poucos animais, reais ou imaginários,
instigaram tanto a imaginação quanto o unicórnio.
Desde que essa criatura com um só chifre foi descrita pela primeira vez pelo
médico grego Ctésias, há mais de dois mil anos, muitas pessoas têm escrito a
respeito, pintado, esculpido e caçado os unicórnios — e, ao mesmo tempo,
questionado se eles existem mesmo ou não.
PARA CONTINUAR LENDO
CLIQUE EM MAIS INFORMAÇÕES:
Poucos animais, reais ou imaginários,
instigaram tanto a imaginação quanto o unicórnio.
Desde que essa criatura com um só chifre foi descrita pela primeira vez pelo
médico grego Ctésias, há mais de dois mil anos, muitas pessoas têm escrito a
respeito, pintado, esculpido e caçado os unicórnios - e, ao mesmo tempo,
questionado se eles existem mesmo ou não.
Os unicórnios descritos na antigüidade possuem
apenas uma pequena semelhança com as criaturas nobres, inocentes e puras que
habitam a Floresta Proibida em Hogwarts. Segundo Ctésias, o unicórnio
era nativo da Índia. Era mais ou menos do tamanho de um jumento, tinha uma
cabeça vermelho-escuro, o corpo branco, olhos azuis, e um único chifre, de
aproximadamente 45 centímetros, que brotava de sua testa. Branco na base, preto
no meio e vermelho vivo na ponta, o chifre era extraordinário. Quando arrancado
e transformado em cálice, protegia todos os que bebiam dele contra venenos,
convulsões e epilepsia. Entretanto, não era fácil conseguir tais recipientes,
já que a velocidade, a força e o temperamento indócil do unicórnio tornavam sua
captura praticamente impossível.
Nos séculos seguintes, a crença nessa criatura
evasiva cresceu, apesar de continuar não havendo provas de sua existência.
Aristóteles e Júlio César descreveram animais com um chifre e eram citados como
autoridades no assunto. O naturalista romano Plínio o Velho acrescentou novos
detalhes à aparência do unicórnio, dando-lhe uma cabeça de cervo, pés de
elefante, cauda de javali e um chifre negro de noventa centímetros. Alguns
escritores sugeriram, mais tarde, que os primeiros registros de unicórnios se
basearam em descrições confusas do rinoceronte indiano, ou em visões de animais
com dois chifres, como bodes ou cabritos monteses, que foram vistos de perfil ou tinham perdido um chifre. Plínio
também confirmou a natureza violenta do unicórnio e disse que a fera emitia
rugidos graves.
Na Idade Média, a imagem habitual
do unicórnio evoluiu da colagem de partes de animais formada na antigüidade até
a criatura graciosa que conhecemos hoje. Pinturas e tapeçarias desse período
retratam um lindo animal branco, parecido com um cavalo, com um chifre
espiralado de um branco puro e cascos fendidos como os de um cervo. Na
literatura, o unicórnio passou a representar a força, o poder e a pureza. Ele
foi incorporado ao simbolismo cristão e passou a fazer parte do brasão real da
Inglaterra e da Escócia. Os unicórnios apareceram nas lendas do rei Artur, em
contos de fadas, e em relatos romantizados das conquistas de Gengis Khan e de
Alexandre o Grande.
Uma história medieval típica que
dá ênfase à pureza do unicórnio conta que um grupo de animais da floresta foi
até uma poça para matar a sede, mas a água estava envenenada. Os animais
sedentos foram salvos quando um unicórnio apareceu e mergulhou seu chifre na
água, fazendo com que ela se tornasse limpa e fresca. De acordo com outra
história, o amor do unicórnio por tudo que é inocente e puro é tão grande que,
quando ele encontra uma donzela sentada sob uma árvore, deita a cabeça em seu
colo e dorme. Essa idéia agradava, e muito, as pessoas interessadas em capturar
unicórnios para remover seu valioso chifre. A caça aos unicórnios era uma
atividade arriscada, já que havia rumores de que os animais podiam usar seu chifre como espada e, quando perseguidos,
pulavam de penhascos, aterrissando sobre o chifre e fugindo sem ferimentos. Um
método
mais seguro, portanto, ainda que menos valente, era usar uma donzela virtuosa
como isca. Quando o unicórnio adormecesse em seu colo, os caçadores que estavam
aguardando podiam se aproximar e capturá-lo.
Durante
os séculos XV e
XVI, os viajantes europeus voltavam da Ásia, da África e das Américas com
novos registros de aparições de unicórnios. Como as descrições eram diferentes,
presumia-se que havia grande variedade desses animais.
O interesse em capturar unicórnios
desapareceu no século XVIII, quando vários céticos ressaltaram que era
impossível encontrar alguém que tivesse visto a criatura com os próprios
olhos. Alguns escritores continuaram incluindo os unicórnios em seus livros de
história natural, copiando os relatos antigos e medievais, mas a maioria se
convenceu de que era hora de relegar o animal ao mundo das fábulas. Isso não
afetou o fascínio popular pelo unicórnio, que continua vivo até hoje nas artes
plásticas, na literatura e na imaginação.
Cálice
de Fogo, 24
TAPEADO
Tapear - Bras. Pop. 1. Enganar, iludir,
burlar, lograr, embaçar.
Por mais impossível
que fosse, no século XVI, encontrar alguém que tivesse visto um
unicórnio, encontrar um chifre de unicórnio era bem mais fácil. Isso porque o
chifre era vendido em todos os boticários (o equivalente das farmácias de hoje)
como um remédio contra a maior parte das doenças e como proteção contra
venenos. A demanda era grande e os preços altíssimos. Moído, o chifre - também
conhecido como “alicorne” - podia ser tomado puro ou misturado a outros
compostos medicinais. Aqueles que não podiam pagar o precioso produto
compravam um frasco de água onde o chifre de unicórnio havia, supostamente,
sido mergulhado.
É
claro que o produto vendido nos boticários não tinha sido tirado de unicórnios.
Era a presa do narval, uma espécie de baleia dos mares árticos que possui um
único chifre em espiral, o qual pode atingir quase três metros de comprimento.
À medida que o número de expedições baleeiras aumentava nos séculos XVI e
XVII,
crescia
também o fornecimento de supostos chifres de unicórnios. O número de testes
para verificar a autenticidade do alicorne — a maioria consistia em colocar uma
aranha perto do chifre e observar sua reação - era grande, mas, pelo visto,
poucos detectavam chifres falsos, já que as presas de narval, vendidas como
chifres de unicórnio, podiam ser encontradas em todas as lojas da Europa.
Nem todos os alicornes eram usados na
medicina. O caráter lendário do cálice de chifre de
unicórnio como neutralizador de venenos, relatado pela primeira vez por
Ctésias mais de mil anos antes, fez com que eles continuassem sendo um bem
extremamente valioso, principalmente entre a realeza, cujos membros conviviam
diariamente com o medo de serem envenenados. Os cálices de alicorne eram tão
valiosos que, em 1565, o rei Frederico II da
Dinamarca usou apenas um como garantia de um empréstimo para financiar a guerra
contra a Suécia.
Desenho,
do século XVII, de um narval, a baleia dos mares árticos
cuja presa espiralada era vendida a um preço alto como chifre de unicórnio.
Estima-se que a população atual de narvais esteja entre 25.000 e 45.000 espécimes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Por favor, lembre-se, NÃO DEIXE SPOILERS nos comentários. Ajude a manter o suspense daqueles que ainda não leram os livros ou viram os filmes. Os comentários com Spoilers estarão sujeito à exclusão.