A imagem da bela sereia com cabelos compridos, à qual
estamos acostumados, surgiu na Idade Média. Geralmente representada
sentada em uma pedra, ela canta uma canção irresistivelmente doce enquanto
penteia seus cabelos e olha, distante, para um espelho.
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Ficamos tão surpresos quanto
Harry ao saber que os Sereianos de pele prateada e olhos amarelos do fundo do
lago de Hogwarts são, na verdade, parentes da bela sereia loura cujo retrato
está pendurado no banheiro dos monitores. Como essas visões bastante diferentes
nos mostram, a popular “bela das águas” é apenas um dos membros de uma grande
família de Sereianos - uma população que não é composta apenas pelas sereias,
mas também por dezenas de primos de todo o mundo. Entre eles estão a merrymaid
da Cornualha; a merrow da Irlanda; os homens azuis da
Escócia; o neck, havfrue e havmand da Escandinávia; o meerfrau,
nix, nixe e lorelei da Alemanha, e a russa rusalka. Assim
como os humanos, há Sereianos de todos os tamanhos e formas; alguns são gentis,
outros são maus, alguns são lindos e outros horríveis. Na verdade, o único
traço comum a todos os Sereianos é a forma humana da cintura para cima e a
cauda de peixe da cintura para baixo.
Os primeiros Sereianos eram deuses e
deusas das civilizações antigas. Ea (ou Oammes em
grego) era o deus do mar que os babilônios começaram a adorar por volta de
5000 a.C. Segundo as crenças, os babilônios teriam recebido dele seus
conhecimentos sobre artes e ciências. Ele também teria sido o responsável por
transformar os babilônios em um povo civilizado em uma época da história na
qual não havia leis e as pessoas se comportavam, com freqüência, como animais.
A primeira fêmea da espécie foi uma deusa conhecida como Atargatis pelos sírios
e como Derceto pelos filisteus. Como ela governava os oceanos, parece que os
sacerdotes de seu templo decidiram montar um negócio lucrativo vendendo
licenças de pesca para seus adoradores!
A imagem da bela sereia com cabelos
compridos, à qual estamos acostumados, surgiu na Idade Média. Geralmente representada sentada em
uma pedra, ela canta uma canção irresistivelmente doce enquanto penteia seus
cabelos e olha, distante, para um espelho. Diversas teorias tentaram explicar a
obsessão da sereia com seus cabelos. Alguns dizem que um artista anônimo,
copiando uma imagem já deteriorada pelo tempo, cometeu alguns erros e todos os
artistas copiaram esse mesmo erro. Segundo essa teoria, seu “pente” teria sido,
originalmente, um plec-tro (uma palheta usada para tocar instrumentos de
corda), enquanto o “espelho” seria o próprio instrumento, talvez uma lira.
Outra explicação sugere que o espelho e o pente simbolizam a vaidade e a beleza
femininas, características que, acreditava-se, levam o homem à destruição.
De fato, apesar de sua aparência
agradável, a sereia era freqüentemente retratada como uma criatura perversa
que atraía os marinheiros para a morte com sua beleza e suas canções, mantendo
as almas daqueles que fez morrer por afogamento presas sob as ondas. As
sereias mais malévolas chegavam a comer suas presas humanas. Por isso, ver uma
sereia era considerado um presságio terrível. Sua simples presença causava
tempestades, naufrágios e afogamentos. E, além de causar catástrofes naturais,
se uma sereia se sentisse ofendida, magoada ou rejeitada, ela podia fazer o
malfeitor ficar maluco, se afogar ou até mesmo fazer com que sua família, casa
ou aldeia fossem levadas pelas águas.
Felizmente, nem todas as sereias eram tão
más. Algumas tinham um vasto conhecimento de ervas medicinais, que podiam
usar, quando persuadidas, para curar as doenças humanas. Suas habilidades
sobrenaturais permitiam que elas previssem tempestades, vissem o futuro,
concedessem pedidos e encontrassem tesouros submersos. Por causa desses
poderes, as sereias dos mitos eram, com freqüência, capturadas por humanos e forçadas
a conceder pedidos e partilhar seus conhecimentos. Capturar uma sereia não é
tão difícil quanto pode parecer. Você só precisa roubar um de seus bens - seu
pente ou seu espelho, ou talvez o cinto ou o chapéu que ela usa algumas vezes.
Uma vez capturada, a sereia não pode escapar a menos que recupere seus bens.
As sereias também
eram desejadas por homens que queriam essas mulheres lindas e encantadoras como
esposas. Convenientemente, as sereias também desejavam ter humanos como marido,
não apenas por amor, mas para ganhar uma alma, que nenhum sereiano tinha. A
Igreja medieval chegou a discutir se esses “cruzamentos” ajudavam mesmo as
sereias a conseguir a salvação eterna ou não. Ainda assim, as lendas dizem que
os filhos desses casamentos podem ser reconhecidos por suas membranas
natatórias nos pés e nas mãos, mas que, fora isso, são exatamente iguais às
crianças humanas.
Também existem histórias sobre casamentos
entre sereios e mulheres, mas elas são menos comuns, provavelmente porque, ao
contrário de seu correspondente feminino, os sereios são extremamente feios. Na
verdade, em algumas culturas, há uma grande diferença entre os sereios e as
sereias. Dizem que os primeiros desprezam os humanos, não querem ter alma, são
maridos violentos e chegam até mesmo a comer os próprios filhos.
Apesar da crença
nos Sereianos existir há muitos séculos, essas criaturas nunca foram
encontradas. Desde os tempos medievais até bem recentemente, muitas aparições
de sereias foram comunicadas por pessoas respeitáveis, inclusive marinheiros que
navegaram com Cristóvão Colombo e Henry Hudson, mas nenhuma prova foi apresentada.
Alguns vigaristas ousados apresentaram supostas sereias, mas todas elas eram falsas.
P. T. Barnum, por exemplo, construiu a “sereia Fiji” costurando a parte de cima
de um macaco à parte de baixo de um peixe grande.
Quanto às aparições de sereias noticiadas por cidadãos respeitáveis, os
estudiosos dizem que eram, provavelmente, focas, morsas, manatis ou dugongos
(primo asiático do manati americano). Todos esses animais bóiam freqüentemente
na vertical e amamentam seus filhotes da mesma forma que as mães humanas. É
claro que, se você já viu qualquer uma dessas criaturas, sabe que elas não são
facilmente confundidas com as belas mulheres que nos são mostradas pelos mitos,
penteando seus cabelos e cantando canções. Mas as pessoas que mais viam “sereias”
eram marinheiros que já estavam no mar há meses ou anos. Talvez por isso não
seja tão difícil aceitar que seus olhos os recompensassem com a imagem de uma
bela mulher em vez de outro dugongo gorducho.
Cálice
de Fogo, 26
OS
PARENTES DA SEREIA
Muitos seres sobrenaturais do folclore e
dos mitos são associados à água, mas não são classificados como
Sereianos. As mais conhecidas entre essas criaturas são as náiades, as sirens
e os selkies. Apesar de serem muito confundidos com sereias, cada um
possui características distintas e extraordinárias.
As náiades tiveram origem na mitologia grega e
compõem uma das três classes de ninfas das águas. (As outras duas são as
nereidas, que habitam as águas do mar Mediterrâneo, e as oceânides, que vivem
nos oceanos.) As náiades vivem em água doce, como rios, lagos, fontes ou nascentes. Na antigüidade
se acreditava que as nascentes mais importantes abrigavam náiades, que davam à
água o dom da cura e da profecia. As pessoas podiam beber da nascente, mas era
proibido se banhar nela. Aqueles que ignoravam a restrição eram punidos com
doenças ou ficavam malucos. Apesar de as náiades viverem exclusivamente na
água, elas se parecem com os humanos e não têm caudas ou nadadeiras como as
sereias.
As sirens também
tiveram origem na mitologia grega e, assim como as náiades, habitavam os rios.
No entanto, quando elas ofenderam a deusa Afrodite, esta as transformou em
criaturas malvadas com corpo de pássaro e cabeça de mulher e elas foram viver
em uma ilha não habitada ao largo da costa sul da Itália. Apesar das diferenças
anatômicas, as sirens são freqüentemente confundidas com as sereias porque as
duas seduzem com seus cantos. Os marinheiros que passavam pela ilha das sirens
e ouviam suas belas canções perdiam inevitavelmente o rumo e acabavam batendo
nas rochas. Conta a lenda que o herói Ulisses escapou desse destino mandando
que seus marinheiros tapassem os ouvidos com cera, enquanto ele próprio pediu
para ser amarrado ao mastro do navio quando passassem próximos à ilha.
Os selkies são
criaturas que se parecem com focas e que vivem perto das ilhas britânicas
Órcadas e Shetland. As fêmeas da espécie podem tirar suas peles de foca e vir
para a terra sob a forma de mulheres belíssimas. Se um humano do sexo masculino
encontrar a pele, ele pode forçar a selkie fêmea a se casar com ele. Contudo,
caso ela consiga recuperar sua pele, voltará para o mar, deixando marido e
filhos para trás. Assim como as sereias, os selkies se vingam de qualquer mal
ou insulto causando violentas tempestades e afundando navios.
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