sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

O MANUAL DO BRUXO - ALLAN ZOLA KRONZEK - 72








A imagem da bela sereia com cabelos compridos, à qual estamos acostumados, surgiu na Idade Média. Geralmente representada sentada em uma pedra, ela canta uma canção irresistivelmente doce enquanto penteia seus cabelos e olha, distante, para um espelho.



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Ficamos tão surpresos quanto Harry ao saber que os Sereianos de pele prateada e olhos amarelos do fundo do lago de Hogwarts são, na verdade, parentes da bela sereia loura cujo retrato está pendurado no banheiro dos monitores. Como essas visões bastante diferentes nos mostram, a popular “bela das águas” é apenas um dos membros de uma grande família de Sereianos - uma população que não é composta ape­nas pelas sereias, mas também por dezenas de primos de todo o mundo. Entre eles estão a merrymaid da Cornualha; a merrow da Irlanda; os homens azuis da Escócia; o neck, havfrue e havmand da Escandinávia; o meerfrau, nix, nixe e lorelei da Alemanha, e a russa rusalka. Assim como os humanos, há Sereianos de todos os tamanhos e formas; alguns são gentis, outros são maus, alguns são lindos e outros horríveis. Na verdade, o único traço comum a todos os Sereianos é a forma humana da cintura para cima e a cauda de peixe da cintura para baixo.
Os primeiros Sereianos eram deuses e deusas das civilizações antigas. Ea (ou Oammes em grego) era o deus do mar que os babilônios come­çaram a adorar por volta de 5000 a.C. Segundo as crenças, os babilônios teriam recebido dele seus conhecimentos sobre artes e ciências. Ele tam­bém teria sido o responsável por transformar os babilônios em um povo civilizado em uma época da história na qual não havia leis e as pessoas se comportavam, com freqüência, como animais. A primeira fêmea da espécie foi uma deusa conhecida como Atargatis pelos sírios e como Derceto pelos filisteus. Como ela governava os oceanos, parece que os sacerdotes de seu templo decidiram montar um negócio lucrativo vendendo licenças de pesca para seus adoradores!
A imagem da bela sereia com cabelos compridos, à qual estamos acostumados, surgiu na Idade Média. Geralmente representada sentada em uma pedra, ela canta uma canção irresistivelmente doce enquanto penteia seus cabelos e olha, distante, para um espelho. Diversas teorias tentaram explicar a obsessão da sereia com seus cabelos. Alguns dizem que um artista anônimo, copiando uma imagem já deteriorada pelo tempo, cometeu alguns erros e todos os artistas copiaram esse mesmo erro. Segundo essa teoria, seu “pente” teria sido, originalmente, um plec-tro (uma palheta usada para tocar instrumentos de corda), enquanto o “espelho” seria o próprio instrumento, talvez uma lira. Outra explicação sugere que o espelho e o pente simbolizam a vaidade e a beleza femini­nas, características que, acreditava-se, levam o homem à destruição.


De fato, apesar de sua aparência agradável, a sereia era freqüente­mente retratada como uma criatura perversa que atraía os marinheiros para a morte com sua beleza e suas canções, mantendo as almas daque­les que fez morrer por afogamento presas sob as ondas. As sereias mais malévolas chegavam a comer suas presas humanas. Por isso, ver uma sereia era considerado um presságio terrível. Sua simples presença causa­va tempestades, naufrágios e afogamentos. E, além de causar catástrofes naturais, se uma sereia se sentisse ofendida, magoada ou rejeitada, ela podia fazer o malfeitor ficar maluco, se afogar ou até mesmo fazer com que sua família, casa ou aldeia fossem levadas pelas águas.
Felizmente, nem todas as sereias eram tão más. Algumas tinham um vasto conheci­mento de ervas medicinais, que podiam usar, quando per­suadidas, para curar as doenças humanas. Suas habilidades sobre­naturais permitiam que elas previs­sem tempestades, vissem o futuro, concedessem pedidos e encon­trassem tesouros submersos. Por causa desses poderes, as sereias dos mitos eram, com freqüência, capturadas por humanos e forçadas a conceder pedidos e partilhar seus conheci­mentos. Capturar uma sereia não é tão difícil quanto pode parecer. Você só precisa roubar um de seus bens - seu pente ou seu espelho, ou talvez o cinto ou o chapéu que ela usa algumas vezes. Uma vez capturada, a sereia não pode escapar a menos que recupere seus bens.
As sereias também eram desejadas por homens que queriam essas mulheres lindas e encantadoras como esposas. Convenientemente, as sereias também desejavam ter humanos como marido, não apenas por amor, mas para ganhar uma alma, que nenhum sereiano tinha. A Igreja medieval chegou a discutir se esses “cruzamentos” ajudavam mesmo as sereias a conseguir a salvação eterna ou não. Ainda assim, as lendas dizem que os filhos desses casamentos podem ser reconhecidos por suas membranas natatórias nos pés e nas mãos, mas que, fora isso, são exata­mente iguais às crianças humanas.


Também existem histórias sobre casamentos entre sereios e mulheres, mas elas são menos comuns, provavelmente porque, ao contrário de seu correspondente feminino, os sereios são extremamente feios. Na verdade, em algumas culturas, há uma grande diferença entre os sereios e as sereias. Dizem que os primeiros desprezam os humanos, não querem ter alma, são maridos violentos e chegam até mesmo a comer os próprios filhos.
Apesar da crença nos Sereianos existir há muitos séculos, essas cria­turas nunca foram encontradas. Desde os tempos medievais até bem recentemente, muitas aparições de sereias foram comunicadas por pessoas respeitáveis, inclu­sive marinheiros que nave­garam com Cristóvão Colombo e Henry Hudson, mas nenhuma prova foi apresentada. Alguns vigaristas ousados apresentaram supostas sereias, mas todas elas eram falsas. P. T. Barnum, por exemplo, construiu a “sereia Fiji” costurando a parte de cima de um macaco à parte de baixo de um peixe grande. Quanto às aparições de sereias noticiadas por cidadãos respeitáveis, os estudiosos dizem que eram, provavelmente, focas, morsas, manatis ou dugongos (primo asiáti­co do manati americano). Todos esses animais bóiam freqüentemente na vertical e amamentam seus filhotes da mesma forma que as mães humanas. É claro que, se você já viu qualquer uma dessas criaturas, sabe que elas não são facilmente confundidas com as belas mulheres que nos são mostradas pelos mitos, penteando seus cabelos e cantando canções. Mas as pessoas que mais viam “sereias” eram marinheiros que já estavam no mar há meses ou anos. Talvez por isso não seja tão difícil aceitar que seus olhos os recompensassem com a imagem de uma bela mulher em vez de outro dugongo gorducho.


Cálice de Fogo, 26



OS PARENTES DA SEREIA

Muitos seres sobrenaturais do folclore e dos mitos são associados à água, mas não são classificados como Sereianos. As mais conhecidas entre essas criaturas são as náiades, as sirens e os selkies. Apesar de serem muito confundidos com sereias, cada um possui características distintas e extra­ordinárias.
As náiades tiveram origem na mitologia grega e com­põem uma das três classes de ninfas das águas. (As outras duas são as nereidas, que habitam as águas do mar Mediterrâneo, e as oceânides, que vivem nos oceanos.) As náiades vivem em água doce, como rios, lagos, fontes ou nascentes. Na antigüidade se acreditava que as nascentes mais importantes abrigavam náiades, que davam à água o dom da cura e da profecia. As pessoas podiam beber da nascente, mas era proibido se banhar nela. Aqueles que ignoravam a restrição eram punidos com doenças ou ficavam malucos. Apesar de as náiades viverem exclusivamente na água, elas se parecem com os humanos e não têm caudas ou nadadeiras como as sereias.
As sirens também tiveram origem na mitologia grega e, assim como as náiades, habitavam os rios. No entanto, quando elas ofenderam a deusa Afrodite, esta as transformou em criaturas malvadas com corpo de pássaro e cabeça de mulher e elas foram viver em uma ilha não habitada ao largo da costa sul da Itália. Apesar das diferenças anatômicas, as sirens são freqüentemente confundidas com as sereias porque as duas seduzem com seus cantos. Os marinheiros que passavam pela ilha das sirens e ouviam suas belas canções perdiam inevitavelmente o rumo e acabavam baten­do nas rochas. Conta a lenda que o herói Ulisses escapou desse destino mandando que seus marinheiros tapassem os ouvidos com cera, enquanto ele próprio pediu para ser amar­rado ao mastro do navio quando passassem próximos à ilha.
Os selkies são criaturas que se parecem com focas e que vivem perto das ilhas britânicas Órcadas e Shetland. As fêmeas da espécie podem tirar suas peles de foca e vir para a terra sob a forma de mulheres belíssimas. Se um humano do sexo masculino encontrar a pele, ele pode forçar a selkie fêmea a se casar com ele. Contudo, caso ela consiga recupe­rar sua pele, voltará para o mar, deixando marido e filhos para trás. Assim como as sereias, os selkies se vingam de qualquer mal ou insulto causando violentas tempestades e afundando navios.







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