A Professora McGonagall não perde tempo explicando a
seus alunos do primeiro ano no que consiste a transfiguração. Em um piscar de
olhos, ela transforma sua mesa em um porco. Ela também poderia ter se
transformado em um gato, ou transformado um de seus alunos em [...].
PARA CONTINUAR LENDO
CLIQUE EM MAIS INFORMAÇÕES:
A Professora McGonagall não
perde tempo explicando a seus alunos do primeiro ano no que consiste a
transfiguração. Em um piscar de olhos, ela transforma sua mesa em um porco. Ela
também poderia ter se transformado em um gato, ou transformado um de seus
alunos em uma tartaruga ou em um pedaço de madeira. A transfiguração - transformação mágica de uma
pessoa, animal, ou um objeto em outro - é um assunto complexo e perigoso que requer anos de
estudo. Os principiantes começam com tarefas bem simples, como transformar
botões em besouros.
Histórias de transfiguração (do latim trans,
“através de”, e figura, “forma”) são encontradas em mitos, contos de
fada e no folclore do mundo inteiro. A fada madrinha de Cinderela transfigura
uma abóbora em carruagem e camundongos em cavalos. Em histórias clássicas como “O
Príncipe Sapo” e “A Bela e a Fera”, belos rapazes se tornam sapos coaxantes ou
ogros repulsivos. A bruxa grega Circe fez de seu jardim um verdadeiro zoológico
ao transformar suas visitas em leões, ursos e lobos, sendo que os convidados
menos sortudos acabaram no chiqueiro.
As histórias mais famosas talvez sejam as que encontramos
em Metamorfoses, do poeta romano Ovídio. Escrito no século I, o
livro conta a história do mundo, começando com a transformação do caos em ordem
e terminando na época de Ovídio com a transfiguração do imperador Júlio César
em uma estrela. Entre uma coisa e outra há cerca de 250 histórias de deuses,
heróis e mortais passando por transfigurações fantásticas e, às vezes,
chocantes. O caçador Actéon é transformado em um cervo, como castigo por ter
espionado a deusa Diana enquanto ela tomava banho, e acaba sendo dilacerado
pelos próprios cachorros.
Aracne, uma mestra tecelã,
foi transfigurada em uma aranha por ter tido a audácia de desafiar a deusa
Minerva para saber qual das duas tecia melhor. Já a ninfa Dafne foi
transfigurada em um loureiro enquanto fugia do deus Apoio. Nas palavras de
Ovídio: “... uma grande fraqueza tomou seus membros, seus seios macios foram
cercados por uma grossa casca de árvore, seus cabelos viraram folhas, seus
braços, galhos, e seus pés, antes tão velozes, foram presos fortemente por
preguiçosas raízes, enquanto seu rosto se transformou na copa da árvore. Nada
restou dela, exceto sua extraordinária graça.”
As transfigurações
de Ovídio quase sempre são desencadeadas pela fúria ou bondade de um deus, mas
muitas criaturas da mitologia e do folclore podem mudar de forma por vontade
própria; elas são conhecidas como criaturas
camaleônicas.
Os deuses escandinavos Odin e Loki eram especialistas em assumir formas de
animais, assim como o deus grego Zeus, que freqüentemente se transformava em
um touro, carneiro, águia, pomba ou cisne. Muitas fadas e a maior parte dos
demônios, inclusive as veelas, os ghouls e os trasgos, são
mestres em mudar de forma e podem se transformar em qualquer coisa - uma mulher
atraente, fumaça, uma bacia de água, uma pedra, uma tempestade de areia ou até
mesmo seu melhor amigo. Lendas populares do mundo inteiro falam das
transfigurações-relâmpago que acontecem quando as criaturas camaleônicas fogem
de seus inimigos ou lutam entre si. Na fábula medieval galesa, o personagem Gwion
Bach rouba o dom da profecia do caldeirão
da
bruxa Ceridwen. Ele sai correndo sob a forma de uma lebre, mas a bruxa o
persegue sob a forma de um galgo. Ele mergulha em um rio e se transforma em um
peixe; ela o segue como uma lontra. Ele levanta vôo sob a forma de um pequeno
passarinho e ela o persegue transformada em falcão. Tendo avistado um monte de
trigo recém-cortado no chão de um celeiro, Gwion pousa e se transfigura no que
parecia ser o disfarce perfeito - um grão de trigo no meio de milhares.
Ceridwen, no entanto, é ainda mais esperta. Ela pousa no celeiro, se transforma
em uma galinha preta, fica ciscando ali até encontrar o grão certo de trigo e o
devora.
A
ninfa Dafne transfigurada em um loureiro.
Os seres camaleônicos
mais conhecidos, pelo menos por sua reputação, são as bruxas. Já no início do
século II d.C. o escritor romano Apuleio escreveu
sobre bruxas que podiam tomar a forma de pássaros, cachorros, doninhas,
camundongos e — como uma certa repórter do Projeta Diário - insetos,
para entrar nas casas das pessoas e levar a cabo seus serviços sujos sem serem
notadas. Apuleio escrevia ficção (muitas coisas eram reflexos das crenças de
seu tempo), mas, séculos mais tarde, durante a época de caça às bruxas (1450-1700),
a crença de que as bruxas podiam se transfigurar em animais, principalmente em
gatos, já havia se tornado um lugar-comum. Os julgamentos desse período estão
repletos de “provas” de tais transfigurações, principalmente sob a forma de
histórias de ferimentos, que teriam sido feitos nos animais e que mais tarde
apareciam nos corpos das pessoas acusadas. Por exemplo: em um julgamento do
século XVI em Ferrara, na Itália, um homem
testemunhou que havia espancado um gato com uma vara quando viu que ele estava
atacando seu bebê. No dia seguinte, uma mulher da vizinhança foi vista coberta
de machucados. Isso era considerado prova de que havia sido ela, sob a forma
felina, que atacara o bebê. Em outro julgamento, desta vez de uma bruxa
escocesa, em 1718, um homem testemunhou que se sentia tão incomodado pelos
gatos conversando com vozes humanas perto de sua casa que matou dois e feriu
vários outros. Logo depois, duas mulheres da localidade foram encontradas
mortas em suas camas e uma outra tinha um corte misterioso em sua perna,
provando novamente que os gatos eram, na verdade, bruxas disfarçadas sob a
forma de animais.
O folclore do mundo inteiro está
repleto de histórias de homens e mulheres que, assim como Sirius Black, Tiago
Potter e Pedro Pettigrew, podem adotar uma única forma animal. Na Europa, as
lendas mais conhecidas eram sobre lobisomens — homens que se
transformavam em lobos sanguinários por curtos períodos de tempo. Mas, nas
regiões do mundo onde os lobos não são comuns, havia outros monstros meio
homens, meio animais, que vagavam noite adentro. Na Amazônia havia histórias de
homens-jaguar; na índia, de homens-tigre; na África, de homens-hiena, e em
outras partes do mundo homens eram conhecidos por se transformar em coiotes,
ursos, chacais, crocodilos ou serpentes. Muitas dessas lendas provavelmente
surgiram de rituais de mágicos tribais e xamãs que, durante as cerimônias,
vestiam peles, imitavam o comportamento animal (bufavam, uivavam e batiam os
pés no chão) e, talvez para eles e para aqueles que assistiam, tornavam-se
temporariamente um veado, um urso ou um jaguar.
Muitos de nós já pensamos, em algum
momento, como seria se tornar uma outra criatura: sentir o poder e a graça de
um leopardo ou ver o mundo do alto, como uma águia. Mas poucos gostariam de
experimentar a visão de um roedor que Olho-Tonto Moody dá a Draco Malfoy ao
transformá-lo em um grande furão. Há vezes em que é melhor ser você mesmo.
Pedra Filosofal, 8
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Por favor, lembre-se, NÃO DEIXE SPOILERS nos comentários. Ajude a manter o suspense daqueles que ainda não leram os livros ou viram os filmes. Os comentários com Spoilers estarão sujeito à exclusão.