quarta-feira, 4 de abril de 2012

Animais Fantásticos e Onde Habitam - Uma Breve História da Percepção que os Trouxas têm dos Animais Fantásticos que Vivem Ocultos







Por mais surpreendente que possa parecer a muitos bruxos, os trouxas nem sempre foram ignorantes a respeito das criaturas mágicas e monstruosas que nos esforçamos há tanto tempo para esconder. Um relance pela arte e a literatura trouxas da Idade Média revela que eles sabiam serem reais muitas das criaturas que hoje consideram imaginárias. O dragão, o grifo, o unicórnio, a fênix, o centauro — estes e muitos outros estão representados nas obras de arte daquele período, embora com uma inexatidão quase cômica.
Contudo, um exame mais atento dos bestiários trouxas daquele período comprova que a maioria dos animais mágicos ou passou inteiramente despercebida dos trouxas ou foi confundida com outra coisa qualquer. Examinem o fragmento do manuscrito, a seguir, de autoria de um tal Irmão Benedito, um monge franciscano de Worcestershire:

Hoje, quando andava pelo canteiro de ervas, afastei um pé de manjericão e descobri um furão de tamanho monstruoso. Ele não correu nem se escondeu como costumam fazer esses animais, mas saltou sobre mim, fazendo-me cair de costas no chão e gritando com uma fúria pouco natural: “Dá o fora, careca!”. Mordeu então o meu nariz com tanta força que fiquei sangrando por muitas horas. O frei não quis acreditar que eu encontrara um furão falante e até me perguntou se eu andara bebendo o vinho de nabos do Irmão Bonifácio. Como o meu nariz continuasse inchado e sangrando fui dispensado de assistir às vésperas.

Evidentemente, nosso amigo trouxa tinha descoberto não um furão, como ele supôs, mas um furanzão, muito provavelmente em perseguição à sua vítima preferida, os gnomos.
A compreensão insuficiente é muitas vezes mais perigosa do que a ignorância, e o temor que os trouxas têm da magia sem dúvida aumentou com o seu medo do que poderia estar escondido em seus canteiros de ervas.
A perseguição dos trouxas aos bruxos nessa época estava atingindo uma intensidade até então desconhecida, e a visão de animais como dragões e hipogrifos contribuía para a histeria dos trouxas.
Não é objetivo deste livro discutir o período de trevas que precedeu a retirada dos bruxos para a clandestinidade[1]. Estamos interessados apenas no destino dos animais fabulosos que, como nós próprios, tiveram de se ocultar para que os trouxas se convencessem de que magia não existia.

[1] Quem estiver interessado na história completa desse período particularmente sangrento da vida dos bruxos deve consultar “Uma História da Magia” de Bathilda Bagshot (Ed. Livrinhos Vermelhos, 1947).

A Confederação Internacional dos Bruxos discutiu a questão em sua famosa reunião de cúpula de 1692. Nada menos de sete semanas de discussões, por vezes azedas, entre bruxos de todas as nacionalidades, foram dedicadas ao espinhoso problema das criaturas mágicas. Quantas espécies poderíamos ocultar do olhar dos trouxas e quais deveriam ser? Onde e como iríamos escondê-las? O debate prosseguiu, acalorado, e embora houvesse criaturas inconscientes de que seu destino estava sendo decidido, outras contribuíram para o debate[2].

[2] Delegações de centauros, Sereianos e Duendes foram persuadidas a comparecer à reunião de cúpula.


Finalmente chegaram a um acordo[3].

[3] A exceção dos duendes.


Vinte e sete espécies, desde o tamanho de um dragão ao de um bandinho, deveriam ser escondidas dos trouxas, de modo a criar a ilusão de que jamais haviam existido, exceto na imaginação. Este número cresceu no século seguinte, à medida que os bruxos adquiriram maior confiança nos seus métodos de ocultamente. Em 1750 foi inserida no Estatuto Internacional de Sigilo em Magia a Cláusula 73, hoje respeitada pelos Ministérios da Magia do mundo inteiro:

Todo governo bruxo se responsabilizará pelo ocultamento, cuidado e controle de todos os animais, seres e espíritos mágicos que vivam dentro das fronteiras do seu território. Se tais criaturas causarem mal ou chamarem atenção da comunidade trouxa, o governo bruxo da nação afetada será disciplinado pela Confederação Internacional dos Bruxos.







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