terça-feira, 3 de abril de 2012

Animais Fantásticos e Onde Habitam - O que é um Animal?







Há séculos a definição de “animal” tem causado controvérsia. Embora isto surpreenda quem esteja estudando Magizoologia pela primeira vez, o problema talvez fique mais claro se pararmos um instante para considerar três tipos de criaturas mágicas.
Os Lobisomens passam a maior parte do tempo sob a forma humana (seja a de bruxo ou a de trouxa). Uma vez por mês, no entanto, eles se transformam em animais selvagens e quadrúpedes com intenções assassinas e sem consciência humana.
Os hábitos dos centauros não são humanos: eles habitam lugares isolados, recusam roupas e preferem viver longe de bruxos e trouxas, embora tenham inteligência igual a ambos.
Os trasgos revelam uma aparência humanóide, caminham eretos, podem aprender algumas palavras simples, mas são menos inteligentes do que o unicórnio mais obtuso e não possuem poderes mágicos propriamente ditos, exceto sua força prodigiosa e sobrenatural.
Perguntamos então: qual dessas criaturas é um “ser” — ou seja, uma criatura digna de direitos legais e voz no governo do mundo mágico — e qual é um “animal”? As primeiras tentativas para decidir que criaturas mágicas deviam ser designadas “animais” é extremamente primitiva. Burdock Muldoon, chefe do Conselho de Bruxos[1] no século XIV, decretou que todo membro da comunidade mágica que caminhasse sobre duas pernas dali em diante faria jus à condição de “ser”, e os demais permaneceriam “animais”. Imbuído de um espírito fraterno ele convidou todos os “seres” a se reunirem com os bruxos em um encontro de cúpula para discutir as novas leis da magia, e descobriu, para seu intenso desapontamento, que errara nos cálculos. O salão do encontro estava apinhado de duendes que haviam trazido em sua companhia o maior número de criaturas bípedes que encontraram.

[1] O Conselho de Bruxos precedeu o Ministério da Magia.


Conforme nos conta Batilda Bagshot em Uma história da magia:

Mal se conseguia ouvir com a gritaria dos oraqui-oralá, os lamentos dos agoureiros e o canto incessante e agudo dos fiuuns. Enquanto os bruxos e bruxas tentavam consultar os papéis que tinham diante deles, uma variedade de fadinhas e pequenos duendes circulava em volta de suas cabeças, dando risinhos abafados e dizendo coisas ininteligíveis. Uns doze trasgos começaram a quebrar o salão com suas maças, enquanto megeras deslizavam pelo lugar à procura de crianças para comer. O chefe do Conselho se levantou para abrir o encontro, escorregou em um monte de excremento de pocotó e saiu do salão correndo e xingando.

Vemos assim que o fato de possuir duas pernas não era garantia de que uma criatura mágica pudesse ou devesse ter interesse nos assuntos do governo bruxo. Amargurado, Burdock Muldoon renegou qualquer tentativa de integrar os membros não-bruxos da comunidade mágica no Conselho de Bruxos. A sucessora de Muldoon, Madame Elfrida Clagg, tentou redefinir os “seres” na esperança de criar laços mais fortes com outras criaturas mágicas. “Seres”, declarou ela, “Eram aqueles capazes de falar uma língua humana. Todos que conseguissem falar inteligivelmente aos membros do Conselho estavam, portanto, convidados a comparecer ao próximo encontro”.
Mais uma vez, porém, houve problemas. Os trasgos que tinham aprendido com os duendes algumas frases simples começaram a destruir o salão como antes. Os furanzões corriam em torno das pernas das cadeiras dos conselheiros, unhando os tornozelos ao seu alcance. Entrementes, uma grande delegação de fantasmas (que haviam sido barrados sob a liderança de Muldoon, mediante o argumento de que não andavam sobre duas pernas, mas deslizavam) compareceu, mas eles se retiraram desgostosos com o que denominaram mais tarde de “ênfase descarada do Conselho nas necessidades dos vivos em oposição aos desejos dos mortos”. Os centauros, que sob Muldoon haviam sido classificados como "animais" e, agora, sob Madame Clagg, definidos como “seres”, recusaram-se a comparecer ao Conselho em protesto pela exclusão dos Sereianos, que não eram capazes de conversar em outra língua exceto serêiaco quando subiam à superfície.
Somente em 1811 foram encontradas definições que a maior parte da comunidade mágica achou aceitáveis. Grogan Stump, o Ministro da Magia recém-nomeado, decretou que um “ser” era “qualquer criatura que possuísse inteligência suficiente para compreender as leis da comunidade mágica e para compartir a responsabilidade na preparação de tais leis[2].

[2] Abriu-se uma exceção para os fantasmas, que afirmavam ser insensível classificá-los como “seres” quando eram tão evidentemente “ex-seres”. Stump, portanto, criou as três divisões do Departamento para Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas que existem até hoje: a Divisão de Feras, a Divisão de Seres e a Divisão de Espíritos.


Na ausência dos duendes os trasgos foram interrogados e o Conselho concluiu que não entendiam nada do que lhes era dito, foram, portanto, classificados como “animais” apesar de andarem sobre duas pernas. Os Sereianos, pela primeira vez, foram convidados por meio de intérpretes a se tornarem “seres”. Fadinhas, elfos e gnomos, apesar de sua aparência humanóide, foram relegados com firmeza à categoria de “animais”.
Naturalmente, a questão não se encerrou aí.
Todos conhecemos os extremistas que fazem campanha pela classificação dos trouxas como “animais”, todos sabemos que os centauros recusaram a condição de “seres” e solicitaram permanecer como “animais[3]”, entrementes, os lobisomens foram transferidos da Divisão de Animais para a de Seres há muitos anos, no momento em que escrevo há um Serviço de Apoio aos Lobisomens na Divisão de Seres, enquanto o Registro de Lobisomens e a Unidade de Captura de Lobisomens permanecem subordinados à Divisão de Animais. Várias criaturas extremamente inteligentes são classificadas como “animais” porque não conseguem superar suas naturezas brutas. As acromântulas e as mantícoras são dotadas de linguagem, mas tentarão devorar qualquer humano que se aproxime delas. A esfinge fala somente em charadas e enigmas e se torna violenta quando recebe uma resposta errada.

[3] Os centauros fizeram objeções a algumas das criaturas com quem deveriam compartir a condição de “ser”, tais como as megeras e os vampiros, e declararam que eles administrariam seus negócios independentemente dos bruxos. Um ano depois os Sereianos fizeram o mesmo pedido. O Ministério da Magia aceitou essa exigência com relutância. Embora exista uma Seção de Ligação com os Centauros na Divisão de Feras do Departamento para Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas, nenhum centauro jamais a usou. De fato, “ser designado para a Seção dos Centauros” tomou-se uma piada no Departamento e significa que a pessoa em questão será em breve demitida.

Sempre que nas páginas seguintes a classificação de um animal continuar incerta, o fato será registrado em seu verbete.
Abordemos agora a pergunta que bruxas e bruxos mais fazem quando a conversa se volta para a Magizoologia: Por que os trouxas não vêem essas criaturas?







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