segunda-feira, 3 de setembro de 2012

OS CONTOS DE BEEDLE, O BARDO




COMENTÁRIOS DE ALVO DUMBLEDORE SOBRE
“A Fonte da Sorte”


“A FONTE DA SORTE” é um eterno favorito, tanto assim que foi tema da única tentativa de introduzir uma pantomima de Natal nos festejos de Hogwarts.
O nosso mestre de Herbologia à época, Professor Herbert Beery[1], um entusiástico aficionado do teatro amador, propôs uma adaptação dessa muito apreciada história infantil como uma surpresa especial de Natal para colegas e alunos. Eu era então um jovem professor de Transfiguração, e Herbert me encarregou dos “efeitos especiais”, que incluíam providenciar uma Fonte da Sorte que funcionasse plenamente e a miniatura de um morro coberto de vegetação, que as nossas três heroínas e o nosso herói pareceriam escalar, enquanto a fonte afundaria lentamente no palco e desapareceria de vista.

[1] O Prof. Beery mais tarde deixou Hogwarts para ensinar na A.B.A.D. (Academia Bruxa de Arte Dramática), onde confessou-me certa vez, ter forte aversão por encenar essa história por acreditá-la azarada.

Creio poder afirmar, sem vaidade, que tanto a minha fonte quanto o meu morro desempenharam satisfatoriamente os papéis que lhes cabiam. O mesmo não se pode dizer, no entanto, do restante do elenco. Esquecendo por instantes as acrobacias do gigantesco verme arranjado pelo nosso Professor de Trato das Criaturas Mágicas, Silvano Kettleburn, o elemento humano se mostrou desastroso para o espetáculo.
O Prof. Beery, em sua função de diretor, esteve perigosamente desatento à complexidade de emoções que fervilhavam sob o seu próprio nariz. Mal sabia ele que os alunos que protagonizavam Amata e o Cavaleiro Azarado tinham sido namorados até uma hora antes de subir a cortina do palco, momento em que o “Cavaleiro Azarado” transferiu suas afeições para “Asha”.
Basta dizer que os nossos aspirantes à sorte nunca chegaram ao alto do morro. A cortina nem bem subira quando o verme do Prof. Kettleburn — que hoje sabemos ter sido um cinzal[2] ingurgitado por um feitiço — explodiu em uma chuva de faíscas e poeira, enchendo o Salão Principal de fumaça e fragmentos do cenário. Enquanto os enormes ovos incandescentes que o bicho pusera ao pé do meu morro incendiavam as tábuas do soalho, “Amata” e “Asha” se hostilizavam e duelavam com tanta ferocidade que o Professor Beery foi apanhado no fogo cruzado, e o corpo docente precisou evacuar o Salão, pois as labaredas que então devastavam o palco ameaçavam engolfar o auditório.

[2] Veja “Animais Fantásticos & Onde Habitam” para uma descrição conclusiva deste curioso bicho. Jamais devia ser intencionalmente introduzido em um salão com painéis de madeira, nem receber um Feitiço de Ingurgitamento.

O espetáculo da noite terminou com uma Ala Hospitalar lotada, passaram-se muitos meses até o Salão Principal perder o cheiro acre de fumaça de madeira, e outros tantos para a cabeça do Professor Beery reromar as proporções normais, e o Professor Kettleburn deixar de lecionar sob observação[3]. O diretor Armando Dippet impôs uma proibição a futuras pantomimas, uma orgulhosa tradição antiteatral que Hogwarts mantém até hoje.

[3] O Prof. Kettleburn sobreviveu a nada menos que sessenta e dois trimestres sob observação durante o tempo em que ocupou o cargo de professor de Trato das Criaturas Mágicas. Suas relações com o meu predecessor em Hogwarts, o Professor Dippet, sempre foram tensas, pois este o considerava meio irresponsável. Na época em que me tornei diretor, no entanto, o Professor Kettleburn já se acalmara consideravelmente, embora sempre houvesse alguém a comentar com cinismo que, restando-lhe apenas um e meio dos membros com que nascera, ele era forçado a levar a vida menos ativamente.

Apesar do nosso fiasco dramático, “A Fonte da Sorte” é provavelmente o conto de Beedle mais popular, embora, tal como acontece com “O Bruxo e o Caldeirão Saltitante”, tenha seus detratores. Mais de um pai de aluno já exigiu a retirada desse conto da Biblioteca de Hogwarts, inclusive, por coincidência, um descendente de Bruto Malfoy e antigo membro da diretoria de Hogwarts, o Sr. Lúcio Malfoy. O conselheiro apresentou, por escrito, sua exigência de que a história fosse proibida:

Qualquer obra de ficção ou não-ficção que retrate a miscigenação de bruxos e trouxas deve ser banida das estantes de Hogwarts. Não quero que o meu filho seja influenciado a macular a pureza de sua linhagem lendo histórias que promovam casamentos entre bruxos e trouxas.

A minha recusa em retirar o livro da Biblioteca foi apoiada pela maioria dos membros do Conselho Diretor de Hogwarts. Em resposta, escrevi ao Sr. Malfoy explicando a minha decisão:

As famílias de sangue supostamente puro mantêm a sua alegada pureza excluindo os trouxas ou filhos de trouxas de suas árvores genealógicas, deserdando-os ou mentindo sobre sua pureza. Tentam então impingir aos demais a sua hipocrisia, pedindo a exclusão de obras que abordem as verdades que eles negam. Não há um único bruxo ou bruxa no mundo cujo sangue não tenha se misturado ao de trouxas, e, assim sendo, devo considerar ilógica e imoral a remoção de obras que tratem do assunto do acervo de conhecimentos dos nossos alunos [4].

[4] Minha resposta motivou várias outras cartas do Sr. Malfoy, mas, como continham principalmente comentários afrontosos sobre a minha sanidade, meus pais e higiene, sua relevância para este comentário é remota.
  

Esta troca de correspondência marcou o início da longa campanha do Sr. Malfoy para que me removessem do cargo de Diretor de Hogwarts, e da minha para que o removessem do cargo de Comensal da Morte Favorito de Lorde Voldemort.








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