quarta-feira, 27 de junho de 2012

O Mundo Mágico de Harry Potter - David Colbert - PARTE 1





O QUE FAZ DE HARRY POTTER UM HERÓI UNIVERSAL?


Os detalhes da vida de Harry são bem conhecidos por seus fãs. Alguns deles chegaram mesmo a deduzir certas informações que J. K.. Rowling não oferece, como o ano de nascimento de Harry. Quando nasceu Harry Potter? Alguns fãs dizem que foi em 1980, calculando a partir do 500º aniversário de morte de Nick Sem-Cabeça, em A Câmara. Nick morreu em 1492. Dessa forma, A Câmara se passaria em 1992. Harry tem doze anos nessa ocasião. Apesar de alguns pequenos detalhes no livro contradizerem essa conclusão, ainda é um bom palpite.



 PARA CONTINUAR LENDO 
 CLIQUE EM MAIS INFORMAÇÕES: 



O QUE FAZ DE HARRY POTTER UM HERÓI UNIVERSAL?


Os detalhes da vida de Harry são bem conhecidos por seus fãs. Alguns deles chegaram mesmo a deduzir certas informações que J. K.. Rowling não oferece, como o ano de nascimento de Harry. Quando nasceu Harry Potter? Alguns fãs dizem que foi em 1980, calculando a partir do 500º aniversário de morte de Nick Sem-Cabeça, em A Câmara. Nick morreu em 1492. Dessa forma, A Câmara se passaria em 1992. Harry tem doze anos nessa ocasião. Apesar de alguns pequenos detalhes no livro contradizerem essa conclusão, ainda é um bom palpite.

Harry, o herói
Mas, se conseguimos entender profundamente o personagem de Harry Potter, isso não se deve somente aos fatos. Harry, apesar de suas qualidade únicas, é um herói que nos parece bastante familiar. Desde o comecinho de A Pedra ele já aparece como um príncipe perdido ou um rei oculto – assim como Édipo, Moisés, o Rei Artur e inúmeros outros de todas as culturas. Ele nunca soube que era um bruxo – nem mesmo sabia que existia o mundo mágico – antes de receber a carta chamando-o para Hogwarts.
Para torná-lo ainda mais familiar a todos nós, ele é, pelo menos de acordo com os estranhos padrões dos Dursley, um patinho feio. Assim, eles o maltratam, como Cinderela foi maltratada, aprisionando-o num mundo totalmente alheio ao seu, forçando-o a dormir debaixo das escadas quando uma cama com dossel está à sua espera em Hogwarts, e alimentando-o de restos, o que o faz ficar espantado com a abundância dos banquetes de Hogwarts.

Como Harry vê a si mesmo
Apesar de a entrada para o mundo dos bruxos oferecer a Harry, de imediato, o reconhecimento que ele tão desesperadamente deseja – todo mundo que ele encontra já ouviu falar no grande Harry Potter – ele ainda sente dúvidas, e muitas. A cicatriz brilhante não foi a única marca deixada por Voldemort. No fundo de sua consciência, ele guarda recordações daquela luta. Alguma coisa da psique de Voldemort conseguiu penetrar em Harry. E ele se preocupa com a dúvida em que ficou o Chapéu Seletor em A Pedra: ele pertence à Casa Grifinória, com as virtudes que isso implica, ou será de Sonserina, suscetível ao Mal?
Em A Câmara, Dumbledore explica-lhe que entre o Bem e o Mal existem sombras, áreas cinzentas, e não apenas escuridão e luz. A porção de Voldemort que há em Harry, segundo Dumbledore, simplesmente o torna mais incomum, ou dotado de mais habilidades do que a média dos alunos da Grifinória. E também o ajuda a entender Voldemort, o que é sempre uma vantagem. Nas futuras batalhas, essa força extra e esse conhecimento sem dúvida vão ajudar Harry.

Linhagem
A mãe de Harry, apesar de ser uma bruxa poderosa, nasceu trouxa. Para aqueles que dão importância à linhagem, como Draco Malfoy, Harry é um bruxo inferior. Mas, de alguma maneira, parece justamente que Harry é ainda mais forte justamente por também ter sangue de trouxa.
De fato, suas conversas com Draco fazem eco a um incidente na infância de um outro grande mago britânico, Merlim, contado pelo antigo historiador Geoffrey of Monmouth: Uma súbita discussão irrompeu entre os dois colegas, cujos nomes eram Merlim e Dinabutius. Em meio à troca de palavras, Dinabutius disse a Merlim: “Por que você tenta competir comigo, seu idiota? Como pode pretender que suas habilidades estejam à altura das minhas? Tenho sangue nobre em ambos os lados da minha ascendência. Já você, ninguém sabe quem é, já que nunca teve um pai!”.
Mas o adversário de Merlim, assim como Draco Malfoy, estava predisposto a equívocos causados pelo próprio orgulho. Seu rompante atraiu a atenção dos mensageiros do Rei Vortigern, que haviam justamente sido instruídos a encontrar um garoto sem pai. Foi assim que o jovem Merlim foi levado à presença do rei, e então iniciou sua carreira.

Harry com mil caras
As aventuras de Harry também seguem um padrão que nos parece sempre familiar. O estudioso Joseph Campbell escreveu um longo trabalho sobre o herói das mil caras, um personagem comum e central em diversas culturas por todo o mundo.
De Ulisses, na Grécia Antiga, a Luke Skywalker, de Guerra nas Estrelas, esses heróis e suas lendas guardam uma intrigante similaridade. Contando com Harry, são mil e uma caras.
Campbell resume tais histórias da seguinte maneira: “Um herói se arrisca a deixar o mundo cotidiano e penetra numa região do sobrenatural e do fantasioso. Forças miraculosas estão à sua espera, e ele alcança um triunfo decisivo. O herói retorna de sua misteriosa aventura dotado agora do poder de auxiliar seus semelhantes humanos”.
A jornada do herói segue três etapas, que Campbell nomeia de Partida, Iniciação e Retorno. Entre essas etapas há pontos em comum com as aventuras de Harry. Uma olhada rápida nos livros revela a constância desse padrão:

I. Partida
O herói é chamado a aventura. De acordo com Campbell, o herói é primeiramente visto no mundo cotidiano. Ele está iniciando uma nova etapa em sua vida. Um mensageiro pode ser enviado para anunciar o destino que chama pelo herói.

O início de A Pedra se encaixa bem nesta descrição. Harry está sofrendo horrores em sua convivência com os Dursley quando descobre que há um lugar à sua espera em Hogwarts. Como os Dursley interceptam as primeiras cartas, Hagrid vem pegá-lo. Harry continua a passar as férias com os Dursley e, portanto, os livros seguintes começam novamente com Harry no mundo cotidiano.

O herói pode rejeitar o chamado da aventura. Ele pode ter inúmeras razões para tanto, desde as suas responsabilidades diárias até o egoísmo — ele não quer se dedicar a ajudar os outros. No entanto, por mais que resista, vai acabar descobrindo que não tem escolha a não ser seguir em frente.

Embora Harry não percorra essa etapa em A Pedra, vai fazer isso nos livros seguintes.
Em A Câmara, ele fica perturbado com a atenção dos outros, provocada por sua aventura anterior, e busca o anonimato. Mas seu caráter corajoso torna impossível para ele ignorar as misteriosas ocorrências – que, como manda o destino, têm Harry como alvo. Em O Cálice, mesmo tendo decidido não enganar o Cálice de Fogo para participar do Torneio Tribruxo, ele o escolhe da mesma forma.

O herói encontra um protetor, um guia, que lhe oferece uma ajuda através de poderes sobrenaturais, freqüentemente sob a forma de amuletos.

Aí está algo que vive acontecendo. Em A Pedra, Hagrid é mostrado como um dos protetores de Harry desde o nascimento do garoto. Ele foi o bruxo que levou Harry aos Dursley ainda bebê. Posteriormente, eles se reencontram, quando Harry está indo para Hogwarts. Eles visitam o Beco Diagonal, onde Hagrid cuida que Harry compre uma varinha mágica e outros acessórios de bruxos. Como presente de aniversário, Hagrid lhe dá uma coruja, Edwiges.
Do mesmo modo, Dumbledore tem sido um protetor e um guia de Harry. Em A Pedra, ele dá a Harry a capa da invisibilidade. Em Azkaban, Harry descobre que Sirius vinha protegendo-o.

O herói encontra a primeira entrada para o novo mundo. O protetor pode apenas levar o herói até a entrada, ele deve atravessá-la sozinho. O herói pode ter de lutar, inicialmente, com um guardião da entrada que está ali para impedi-lo de atravessá-la, ou superá-lo pela astúcia.

O clímax de cada uma das aventuras de Harry começa com a travessia solitária de uma entrada. Em A Pedra, Rony pode ajudá-lo a definir quais são os movimentos a serem dados no xadrez e Hermione auxilia-o a descobrir as poções que o ajudarão a atravessar as chamas negras. Mas somente Harry pode entrar na “última câmara”, onde enfrenta Quirrell. Em A Câmara, apesar de ele, Rony e Lockhart percorrerem o escoadouro para encontrar o basilisco e salvar Gina Weasley, Harry precisa vencer sozinho o último e mais perigoso trecho da jornada.

O herói penetra na “barriga da baleia”, uma expressão tirada das lendas, como a história de Jonas, que representa “ser tragado pelo desconhecido”.

Seja quando entra na Câmara Secreta ou quando penetra no esconderijo de Lupin, debaixo do Salgueiro Lutador, Harry está na barriga da baleia.

II. Iniciação
O herói segue um caminho no qual é continuamente posto à prova. O ambiente é desconhecido. O herói pode encontrar companheiros que o ajudem a passar pelas provas. Forças invisíveis podem também vir em seu auxílio.

Esses elementos se repetem em todos os livros. Harry sempre recebe novos amuletos, tal como a Capa da Invisibilidade, em A Pedra, e o Mapa do Maroto, em Azkaban. Ele aprende a invocar forças, como o Patrono.

O herói é raptado, ou precisa empreender uma jornada à noite ou pelo mar.

Harry é literalmente raptado quando toca a Taça Tribruxo, que havia sido transformada em portal.

O herói enfrenta um dragão simbólico. Ele pode sofrer uma morte ritual, talvez mesmo desmembramento.

Harry luta contra o basilisco, os dementadores e, é claro, com o maior de todos os dragões simbólicos – Voldemort. E parece que em cada aventura Harry sofre novos tipos de ferimentos: por exemplo, ele é literalmente desmembrado em A Câmara, quando quebra o braço durante uma partida de quadribol e seus ossos são acidentalmente removidos por um feitiço malfeito.

O herói é reconhecido por seu pai ou se reúne a ele. Ele começa a entender essa força que comanda a sua vida.

Em todas as aventuras, Harry vivencia um profundo momento de contato com seus pais, como quando eles aparecem no Espelho de Ojesed, em A Pedra, e como imagens fantasmas emitidas pela varinha mágica de Voldemort, em O Cálice.

O herói torna-se quase divino. Ele ultrapassou a ignorância e o medo.

Harry conquista uma vitória contra o medo em cada aventura. Embora pareça surpreso por conseguir isso, ele se convence, progressivamente, a cada embate com Voldemort, que o Lorde das Trevas não o derrotará. Como diz Dumbledore, ao final de O Cálice, “Você mediu forças com o poder de um bruxo adulto e enfrentou-o de igual para igual”.

O herói recebe a última dádiva, o objetivo de sua busca. Pode ser um elixir da vida. E pode ser diferente do objetivo original do herói, pois ele se tornou mais sábio durante seu percurso.

Em A Pedra, o Espelho de Osejed coloca a última dádiva – algo que de fato produz um elixir da vida – bem em seu bolso.
Em A Câmara, ele derrota o monstro que vive nos subterrâneos de Hogwarts há décadas, salvando Gina Weasley (e inúmeros outros estudantes que poderiam ter se tornado vítimas do basilisco).
Em Azkaban, ele encontra o prêmio que todos os bruxos vêm procurando: Sirius Black. Mas, depois de descobrir a verdade sobre Black, ele arruma um jeito para salvá-lo da inevitável sentença de morte – o que é a mesma coisa que ter lhe dado um elixir da vida.
Em O Cálice, o objetivo é óbvio: a vitória no Torneio Tribruxo. Mas o que Harry descobre é mais profundo. Ele luta contra Voldemort, varinha mágica contra varinha mágica, e novamente escapa da morte – dessa vez, em virtude de suas próprias habilidades. Então, começa a se dar conta do quanto é grande o seu poder de bruxo.

III. Retorno
O herói empreende um vôo mágico de volta ao seu lugar de origem. Ele pode ser salvo por forças mágicas. Um de seus protetores iniciais pode ajudá-lo. Uma pessoa, ou alguma coisa de seu mundo de origem, pode aparecer para trazê-lo de volta.

Em A Pedra, Harry é miraculosamente salvo, e viaja de volta enquanto ainda está inconsciente. Em A Câmara, ele é salvo por Fawkes. A fênix lhe traz o Chapéu Seletor, que lhe entrega a Espada de Griffindor, com a qual ataca o basilisco. Em O Cálice, falando com a imagem de Cedrico Diggory, emitida pela varinha de Voldemort, Harry jura solenemente levar de volta o corpo de Diggory para Hogwarts.

O herói volta ao mundo cotidiano, atravessando de novo a passagem. Ele pode ter alguma dificuldade para se readaptar à sua vida original onde as pessoas não conseguem compreender o que vivenciou.

Depois de cada período escolar, ele tem de voltar para a residência dos Dursley, na Rua dos Alfeneiros, onde definitivamente ninguém o compreende. Mesmo outros bruxos têm dificuldade de compreendê-lo, como lemos no final de Azkaban. “Ninguém em Hogwarts sabia a verdade do que acontecera... A medida que o trimestre foi chegando ao fim, Harry ouviu muitas teorias diferentes sobre o que realmente acontecera, mas nenhuma delas sequer se aproximava da verdadeira”.

O herói se torna senhor de ambos os mundos: o do cotidiano, que representa a sua existência material, e o mundo mágico, que significa seu íntimo.

Encontrar Voldemort é o pior pesadelo da maioria dos bruxos. Mas Harry encontrou-o muitas vezes e viu coisas que nenhum outro bruxo jamais viu.
Esses encontros o fizeram conhecer uma parte de si mesmo na qual os demais bruxos jamais pensaram. Todos podem estar certos de que, eventualmente – mesmo que ele próprio duvide – essas experiências vão fazer dele um bruxo até mesmo mais poderoso do que Dumbledore (Não há dúvida de que Dumbledore sabe disso, e de que a perspectiva lhe agrada).

O herói conquistou sua liberdade para viver como desejar. Superou os medos que o impediam de viver plenamente.

O medo, assim nos é dito, é o maior inimigo de Harry – maior até do que Voldemort. Em Azkaban, o Professor Lupin não deixa Harry enfrentar o bicho-papão porque não queria uma imagem de Voldemort revoando por Hogwarts. Mas Harry lhe diz: “Eu não estava pensando em Voldemort... Eu lembrei foi dos dementadores”. Lupin fica impressionado com a percepção de Harry. “Isso sugere que o que você mais teme é o medo. Muito sábio, Harry”.

Claro que Rowling não segue uma espécie de mapa passo a passo. Esses padrões e modelos aparecem em seus livros assim como têm estado presentes na mitologia e no folclore há séculos, já que a jornada do herói permanece a mesma. Lutar contra as forças das trevas que existem no mundo exige que o herói enfrente as trevas que existem dentro de si mesmo e redescubra, a cada aventura, que é merecedor da vitória. Nós entendemos Harry porque, como Campbell diz, “todos temos de enfrentar nosso grande desafio”.







GUIA DAS ABREVIAÇÕES DOS TÍTULOS DOS LIVROS

Harry Potter e a Pedra Filosofal. A Pedra
Harry Potter e a Câmara Secreta: A Câmara
Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban: Azkaban
Harry Potter e o Cálice de Fogo: O Cálice
Animais Fantásticos e Onde Habitam: Animais Fantásticos
Quadribol Através dos Séculos: Quadribol

POSTADO POR:




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Por favor, lembre-se, NÃO DEIXE SPOILERS nos comentários. Ajude a manter o suspense daqueles que ainda não leram os livros ou viram os filmes. Os comentários com Spoilers estarão sujeito à exclusão.