Enquanto alguns indivíduos das antigas civilizações criavam feitiços e palavras mágicas na tentativa de curar doenças, provocar chuva em campos secos ou proteger uma aldeia contra a invasão de um inimigo, outros concebiam maldições e outros meios sobrenaturais de infligir dor e azar a seus vizinhos.
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Desvie-se das calçadas
bem conhecidas do Beco Diagonal e enverede por uma sombria rua transversal
perto do Gringotes e você vai se ver na Travessa do Tranco, reduto de
fornecedores de cabeças encolhidas, cordas de enforcado, velas venenosas e
outras mercadorias macabras. Embora Hagrid se aventure por essas bandas em
busca de repelente de lesmas carnívoras, os visitantes dessa região da cidade
são, em sua grande maioria, praticantes das Artes das Trevas -ramo da magia
dedicado a fazer o mal aos outros, também conhecido como magia negra.
Como todos os demais tipos de magia, a
magia negra existe há milhares de anos. Enquanto alguns
indivíduos das antigas civilizações criavam feitiços e palavras mágicas na
tentativa de curar doenças, provocar chuva em campos secos ou proteger uma
aldeia contra a invasão de um inimigo, outros concebiam maldições e outros
meios sobrenaturais de infligir dor e azar a seus vizinhos. Estes métodos
podiam ser usados para se vingar de uma ofensa, para eliminar um competidor nos
negócios ou para levar a melhor contra um adversário político. Quando o general
romano Germânico morreu, no ano 19 d.C., encontraram-se indícios de que alguém
usara magia negra contra ele, na forma de ossos humanos, maldições escritas e
pedaços de chumbo (que na época era conhecido como o metal da morte) ocultos
embaixo do piso e atrás das paredes do seu quarto de dormir.
Em Hogwarts, os jovens alunos aprendem
Defesa contra as Artes das Trevas estudando as travessuras de barretes
vermelhos, kappas, lobisomens e outras criaturas ameaçadoras.
Alunos mais maduros aprendem a defender-se das maldições de magos e bruxas más,
que usam esses meios ilegais para
ganhar controle total sobre os outros, torturar alguém
sem sequer encostar um dedo na vítima ou até matar. Muitas outras atividades
que têm sido tradicionalmente consideradas Artes das Trevas não fazem parte do
currículo de Hogwarts, até onde sabemos. No entanto correm boatos de que essas
coisas podem estar sendo ensinadas em Durmstrang, e é melhor conhecer os
truques que um aspirante a mago das trevas pode ter a seu dispor.
Uma das formas de magia negra mais antiga
e mais largamente praticada é a magia da imagem, na qual se
cria um desenho ou um modelo de cera ou barro que, em seguida, é danificado ou
destruído de propósito. Um exemplo bem conhecido desse tipo de magia é o vodu.
Todo mal infligido ao modelo — também conhecido como efígie — deve
igualmente ferir a vítima. Nas antigas Índia, Pérsia, África, Egito e Europa,
bonecos feitos de cera eram objetos comuns, pois eram fáceis de criar e podiam
ser destruídos por derretimento. Acreditava-se que o derretimento fazia a
vítima morrer com alguma doença terrível. Também já foram feitos bonequinhos de
barro, madeira ou pano, que depois eram pintados para que ficassem parecidos
com a vítima. Outros métodos comuns de danificar um boneco incluíam furá-lo
com alfinetes ou facas (acreditava-se que isso levava a pessoa a sentir dores
ou adoecer) ou, se o boneco fosse de material extraído de um animal ou de um
vegetal, enterrá-lo para que sofresse um processo de decomposição.
Outra forma antiga de magia negra era a
necromancia (do grego necros, que significa "cadáver",
e mancia, que significa "profecia"), onde se tentava despertar
os espíritos dos mortos para praticar adivinhação. Acreditava-se que os mortos,
por não estarem mais limitados ao plano terrestre, tinham acesso a informações
sobre o presente e o futuro, um conhecimento inacessível aos vivos. A
necromancia aparece na Bíblia, era praticada nas antigas Pérsia, Grécia e Roma,
e foi novamente popular na Europa durante o Renascimento. Enquanto alguns
necromantes tentavam reviver cadáveres (sendo até acusados de tentar mandar
esses cadáveres atacarem os vivos), a maioria se contentava apenas em invocar
o espírito de um morto, executando rituais sobre a sepultura, pronunciando
encantamentos e traçando palavras e símbolos mágicos no chão. Muitas vezes o necromante se cercava
de crânios e de outras imagens de morte, vestia uma roupa roubada de um
cadáver e concentrava todos os seus pensamentos na morte, enquanto esperava que
o espírito surgisse. Quando isso acontecia (qualquer pequeno sinal, como o
tremular da chama de uma vela, podia ser visto como indicação da presença do
espírito), o necromante fazia suas perguntas. Algumas vezes as perguntas eram
sobre os grandes mistérios da vida, outras vezes sobre o futuro. Podia também
ser algo mais banal, como, por exemplo, "onde encontrar um tesouro
enterrado". Embora o propósito da necromancia nem sempre fosse fazer mal a
alguém, o ato de invocar (e perturbar) a alma dos mortos costuma ser
considerado imoral e indigno, merecendo um lugar nas Artes das Trevas.
Certos escritores sugeriram que toda magia
é,
na verdade, "sem cor". Em outras palavras, uma atividade será
considerada como "magia negra" ou "magia branca" de acordo
com sua intenção. Por exemplo, derreter um boneco de cera a fim de matar um
ditador cruel pode ser visto como magia branca aos olhos do povo oprimido pelo
ditador. Aos olhos do próprio ditador, contudo, será magia negra. Outros
sugeriram que o conflito entre a magia negra e a magia branca é uma expressão
da irremediável natureza dupla do homem — nossa capacidade de fazer o bem, mas
também de fazer o mal. Os magos, como todos nós, podem usar seu poder para criar,
ajudar os outros e contribuir para o bem do mundo. Ou, como os Comensais da
Morte, podem entregar-se a um aspecto da natureza humana completamente
diferente — serem egoístas, prepotentes, ávidos de poder e capazes de cometer
atrocidades terríveis. Como Dumbledore diz para Harry, o lado em que a gente
está não é uma questão de destino, mas sim de escolha.
Protegidos
por um círculo mágico, Edward Kely, um necromante do século XVI, e seu
ajudante, Paul Waring, conjuram um espírito num cemitério
em Lancashire, Inglaterra.
Câmara
Secreta, 4
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