sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

QUADRIBOL ATRAVÉS DOS SÉCULOS - Capítulo 6 (parte 2)





CAPÍTULO SEIS
Parte 2
Mudanças no Quadribol a partir do Século XIV



BOLAS

A GOLES

Sabemos pelo diário de Trude Keddle que a goles, desde o início, foi feita de couro. Mas, das quatro bolas do quadribol, ela é a única que não foi enfeitiçada desde o início, era apenas uma bola de retalhos de couro, muitas vezes com uma alça (veja Fig. E) porque devia ser agarrada e atirada apenas com uma das mãos. Algumas goles antigas possuíam furos para os dedos. Porém, com a descoberta dos Feitiços Prendedores em 1875, as alças e furos para os dedos se tornaram desnecessários, pois o artilheiro podia manter a mão presa no couro enfeitiçado sem qualquer outro auxílio.
A goles moderna mede trinta centímetros e meio de diâmetro e não tem costuras. Foi pintada de vermelho, pela primeira vez, no inverno de 1711, depois de uma partida em que a chuva pesada a tornou indistinguível do chão lamacento todas as vezes que caía. Acresce que os artilheiros estavam cada vez mais irritados com a necessidade de mergulhar continuamente até o chão para recuperar a goles todas as vezes que não conseguiam agarrá-la, por isso, pouco depois da goles ter mudado de cor, a bruxa Margarida Pennifold teve a idéia de enfeitiçar a bola de modo que, quando caísse, descesse lentamente em direção ao chão como se estivesse afundando em água, o que permitia que os artilheiros pudessem agarrá-la ainda no ar. A “goles Pennifold” continua em uso até hoje.





OS BALAÇOS

Os primeiros balaços (ou “pedraços”) eram, como vimos, pedras voadoras, e na época de Mumps tinham sido meramente desbastadas para assumirem uma forma arredondada. Apresentavam, porém, uma importante desvantagem: podiam ser quebrados pelas maças magicamente reforçadas dos batedores do século XV, caso em que todos os jogadores passavam a ser perseguidos pelos fragmentos da pedra pelo resto da partida.
Provavelmente deve ter sido esta a razão de alguns times de quadribol começarem a experimentar balaços de metal no início do século XVI. Ágata Chubb, especialista em artefatos mágicos antigos, já identificou nada menos que doze balaços de chumbo desse período, encontrados tanto em turfeiras irlandesas quanto em brejos ingleses. “São, sem a menor dúvida, balaços e não balas de canhão”, escreve ela.

As leves mossas dos bastões magicamente reforçados usados pelos batedores são visíveis bem como as marcas inconfundíveis de manufatura bruxa (em oposição à trouxa), a lisura da curvatura, a perfeita simetria. Um fato decisivo foi que cada um dos espécimes voou pelo meu escritório e tentou me derrubar no chão quando sua caixa foi aberta.

Com o tempo, os bruxos descobriram que o chumbo era demasiadamente macio para a fabricação de balaços (qualquer mossa deixada nele afetava sua capacidade de voar em linha reta). Atualmente eles são feitos de ferro e têm vinte e cinco centímetros de diâmetro.
Os balaços são enfeitiçados para perseguir os jogadores sem discriminá-los. Se permitirmos que ajam livremente, eles atacarão o jogador mais próximo, donde a tarefa do batedor é rebater os balaços para o mais longe possível do seu próprio time.



O POMO DE OURO

O pomo de ouro tem o tamanho de uma noz tal qual o Pomorim Dourado. É enfeitiçado para fugir à captura o maior tempo possível. Contam que houve um pomo de ouro que fugiu à captura durante seis meses na charneca de Bodmin em 1884 até que os dois times desistiram, desgostosos com a imperícia dos seus respectivos apanhadores. Os bruxos da Cornualha que conhecem aquela charneca insistem ainda hoje que o pomo continua a vagar ali em estado selvagem, embora eu não tenha conseguido confirmar tal história.






quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

QUADRIBOL ATRAVÉS DOS SÉCULOS - Capítulo 6 (parte 1)





CAPÍTULO SEIS
Parte 1
Mudanças no Quadribol a partir do Século XIV



CAMPO

Zacarias Mumps conta que o campo do século XIV era um ovóide, de cento e cinquenta e dois metros de comprimento por cinquenta e cinco de largura, com uma pequena área circular de aproximadamente sessenta centímetros de diâmetro ao centro. Ele conta, ainda, que o juiz (ou quijuiz, como era conhecido então, fosse homem ou mulher) levava as quatro bolas até o círculo central rodeado pelos catorze jogadores. No instante em que as bolas eram liberadas (a goles era atirada pelo juiz — veja “Goles” mais adiante), os jogadores levantavam vôo a toda velocidade. No tempo de Mumps, os gols ainda eram marcados em enormes cestas presas no alto de postes, conforme vemos na Fig. C.
Em 1620, Quíntio Umfraville escreveu um livro intitulado O Nobre Esporte dos Bruxos, no qual havia um diagrama do campo do século XVII (veja Fig. D). Nele vemos o acréscimo do que hoje conhecemos como “pequena área” em cada extremidade do campo (veja “Regras” adiante). As cestas no alto dos postes eram muito menores e mais altas do que no tempo de Mumps.
Por volta de 1883 as cestas deixaram de ser usadas para a marcação de gols e foram substituídas pelas balizas que hoje usamos, uma inovação noticiada pelo Profeta Diário da época (veja adiante). A partir daí o campo de quadribol não sofreu mais nenhuma mudança.




DEVOLVAM AS NOSSAS CESTAS!
Era o que gritavam os jogadores de quadribol em todo o país, ontem à noite, quando se tornou evidente que o Departamento de Jogos e Esportes Mágicos decidira queimar as cestas usadas há séculos no quadribol para a marcação de gols.
“Não vamos queimar as cestas, não exagerem”, disse um representante do Departamento com ar irritadiço a noite passada quando lhe pediram que comentasse a notícia. “As cestas, como vocês devem ter observado, são fabricadas em diferentes tamanhos. Constatamos que é impossível padronizar o tamanho das cestas de modo a igualar as balizas de gol em toda a Grã-Bretanha. Sem dúvida vocês são capazes de perceber que é uma questão de justiça. Quero dizer, há um time nas proximidades de Barnton que prende cestas minúsculas às balizas do time adversário, em que não se consegue acertar nem uma uva. Em contraposição, nas balizas deles há verdadeiras cavernas de vime balançando para cá e para lá. Não é direito. Definimos aros de tamanho fixo e já está decidido. De forma certa e justa”.
Nesse momento, o representante departamental foi obrigado a se retirar sob uma saraivada de cestas atiradas por manifestantes furiosos que se aglomeravam no saguão. Embora duendes agitadores tenham levado a culpa pelo tumulto que se seguiu, não resta dúvida de que esta noite os fãs de quadribol em toda a Grã-Bretanha estão chorando o fim do jogo que conhecíamos.
“Não vai ser a mesma coisa sem as cestas”, disse com tristeza um velho bruxo de bochechas redondas e coradas. “Eu me lembro de que quando era rapaz, costumávamos atear fogo nas cestas durante a partida só para nos divertir. Não se pode fazer isso com aros. Acabaram com metade da graça”.
Profeta Diário, 12 de fevereiro de 1883.






quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

QUADRIBOL ATRAVÉS DOS SÉCULOS - Capítulo 5





CAPÍTULO CINCO
Precauções Antitrouxas


Em 1398 o bruxo Zacarias Mumps redigiu a primeira descrição completa do jogo de quadribol. Ele começou por enfatizar a necessidade de se estabelecerem medidas de segurança antitrouxas durante a realização dos jogos: “Escolham áreas de charnecas desertas, longe das habitações dos trouxas, e tomem medidas para não serem vistos depois de decolar com suas vassouras. Os feitiços para repelir trouxas são úteis se alguém pretende construir um campo permanente. É igualmente aconselhável que se jogue à noite”.
Deduzimos que os excelentes conselhos de Mumps não foram seguidos porque, em 1362, o Conselho dos Bruxos proibiu os jogos de quadribol em um raio de oitenta quilômetros das cidades do país. Era evidente que a popularidade do jogo estava crescendo rapidamente porque o Conselho achou necessário emendar a lei de 1368 tornando ilegais os jogos a menos de cento e sessenta quilômetros de uma cidade. Em 1419, o Conselho publicou o decreto, cujo texto se tornou famoso, determinando que o quadribol não deveria ser jogado “próximo a lugar algum em que haja a mínima possibilidade de ser assistido por um trouxa ou veremos com que perícia o infrator jogará acorrentado à parede de uma masmorra”.
Conforme todo bruxo em idade escolar sabe, o fato de voarmos em vassouras provavelmente é o nosso segredo mais mal guardado. Nenhuma ilustração de bruxas feita por trouxas está completa sem uma vassoura e, por mais absurdos que sejam tais desenhos (porque as vassouras representadas não se sustentariam no ar sequer por um instante), eles nos lembram que fomos descuidados durante séculos demais e que não devemos nos surpreender que vassouras e magia estejam indissoluvelmente ligadas na cabeça dos trouxas.
As medidas de segurança necessárias não entraram em vigor até o Estatuto Internacional de Sigilo em Magia de 1692 tornar os Ministérios da Magia nacionais diretamente responsáveis pelas conseqüências dos esportes praticados em seus territórios. Disso decorreu, na Grã-Bretanha, a criação do Departamento de Jogos e Esportes Mágicos. Os times de quadribol que desrespeitavam as diretrizes do Ministério eram obrigados a se dissolver. O caso mais famoso de dissolução foi o dos Rojões de Banchory, um time escocês notório não somente por sua imperícia no quadribol quanto pelas festas que dava após os jogos. Depois que jogou em 1814 contra os Flechas de Appleby (veja Capítulo 7), os Rojões não somente deixaram seus balaços se perderem no céu noturno como saíram a capturar um dragão negro das Hébridas para adotar como mascote do time. Os representantes do Ministério da Magia os surpreenderam quando sobrevoavam Inverness, e os Rojões de Banchory nunca mais tornaram a jogar.
Nos dias atuais, os times de quadribol não jogam em suas sedes, mas viajam até os campos construídos pelo Departamento de Jogos e Esportes Mágicos, nos quais foram adotadas medidas de segurança antitrouxas permanentes. Conforme Zacarias Mumps sugerira tão sensatamente, há seiscentos anos, os campos de quadribol são mais seguros nas charnecas desertas.






terça-feira, 28 de janeiro de 2014

QUADRIBOL ATRAVÉS DOS SÉCULOS - Capítulo 4





CAPÍTULO QUATRO
A Chegada do Pomo de Ouro


Desde os primeiros anos da década de 1100, a caça ao Golden Snidget (Pomorim Dourado) gozou de grande popularidade entre bruxos e bruxas. Hoje, esse passarinho (ver Fig. B) é uma espécie protegida, mas naquela época era muito comum no norte da Europa, embora dificilmente fosse visto pelos trouxas, graças à sua habilidade de se esconder e à sua excepcional velocidade.


O tamanho diminuto do Pomorim, aliado à sua notável agilidade no ar e ao seu talento para fugir aos predadores, meramente aumentava o prestígio dos bruxos que o capturavam. Uma tapeçaria do século XII, conservada no Museu do Quadribol, mostra um grupo saindo à caça do Pomorim. No primeiro trecho da tapeçaria alguns bruxos carregam redes, outros empunham varinhas e ainda outros tentam apanhar o passarinho apenas com as mãos. A tapeçaria revela que o passarinho era muitas vezes esmagado pelo caçador. No último trecho da tapeçaria vemos o bruxo que o capturou recebendo uma bolsa de ouro.
A caça ao Pomorim Dourado era censurável por muitas razões. Todo bruxo de bom senso deve lamentar a destruição desses passarinhos amantes da paz em nome do esporte. Além disso, sua caça era em geral praticada em plena luz do dia, o que permitia a um maior número de trouxas avistarem mais vassouras voadoras do que em qualquer outra atividade bruxa. O Conselho de Bruxos da época, porém, não conseguia reduzir a popularidade do esporte — parecia mesmo que o Conselho não considerava o esporte censurável, como veremos mais adiante.
A caça ao Pomorim Dourado finalmente cruzou o caminho do jogo do brejo em 1269 numa partida em que estava presente o próprio chefe do Conselho de Bruxos, Barbero Bragge. Conhecemos o episódio pelo testemunho de Madame Modéstia Rabnott de Kent enviado à sua irmã, Prudência, em Aberdeen (carta que também se encontra em exibição no Museu do Quadribol). Segundo Madame Rabnott, Bragge levou ao jogo uma gaiola com um Pomorim e anunciou aos jogadores reunidos que daria um prêmio de cento e cinqüenta galeões (equivalentes a mais de um milhão de galeões hoje - se Bragge tinha ou não intenção de pagá-lo já é outra história) ao jogador que capturasse o passarinho durante a partida. Madame Rabnott explica o que aconteceu a seguir:

Os jogadores levantaram vôo como se fossem um só homem, desprezando a goles e os pedraços. Os dois goleiros abandonaram as cestas do gol e se juntaram à caçada. O coitadinho do pomorim voava para cima e para baixo procurando um jeito de escapar, mas os bruxos que assistiam ao espetáculo o forçavam a voltar com Feitiços Repelentes. Bom, Pru, você sabe o que eu sinto a respeito da caça ao pomorim e sabe o que acontece quando perco a paciência. Corri para o campo e berrei: "Chefe Bragge, isto não é esporte! Liberte o pomorim e nos deixe assistir ao nobre jogo do brejo que todos viemos ver!" Mas acredite, Pru, o bruto apenas riu e atirou a gaiola vazia em mim. Bom, aí vi vermelho, Pru, sem a menor dúvida. Quando o coitadinho do pomorim voou em minha direção, executei um Feitiço Convocatório. Você sabe como os meus Feitiços Convocatórios são bons, Pru - claro que foi mais fácil eu fazer pontaria porque não estava montada em uma vassoura naquele momento. O passarinho disparou para dentro da minha mão. Enfiei-o dentro das vestes e corri feito louca.
Bom, eles me alcançaram, mas não antes de eu ter me distanciado do público e libertado o pomorim. O chefe Bragge ficou muito zangado e, por um momento, pensei que ia me transformar em um sapo chifrudo ou pior, mas felizmente os assessores dele o acalmaram e recebi apenas uma multa de dez galeões por interromper a partida. Naturalmente, nunca possuí dez galeões na vida, por isso lá se foi a minha velha casa.
Em breve irei morar com você, mas me dou por feliz que pelo menos não tenham me confiscado o hipogrifo. E vou lhe confessar mais uma coisa, Pru, o Chefe Bragge teria perdido o meu voto se eu tivesse o direito de votar.
Sua irmã que muito a ama,
Modéstia

A atitude corajosa de Madame Rabnott pode ter salvado um Pomorim, mas não pôde salvar todos. A idéia do chefe Bragge mudou para sempre a natureza do jogo do brejo. Não tardou muito passaram a soltar Pomorins Dourados em todas as partidas de quadribol, e um único jogador de cada time (o caçador) recebeu a tarefa exclusiva de apanhá-lo. Quando a ave era morta o jogo terminava e o time do caçador ganhava cento e cinquenta pontos a mais para lembrar os cento e cinquenta galeões prometidos pelo Chefe Bragge. Os espectadores se encarregavam de manter o Pomorim em campo por meio dos Feitiços Repelentes mencionados por Madame Rabnott.
Em meados do século seguinte, porém, o número de Pomorins Dourados se reduzira de tal modo que o Conselho de Bruxos, então presidido por Elfrida Clagg, que era uma bruxa muito mais esclarecida, declarou o Pomorim Dourado uma espécie protegida, proibindo tanto a sua caça quanto o seu uso em jogos de quadribol. Fundaram o Santuário do Pomorim Modéstia Rabnott, em Somerset, e procuraram freneticamente um substituto para o passarinho de forma a permitir a continuação do jogo do brejo.
Credita-se a invenção do pomo de ouro ao bruxo Bowman Wright de Godric's Hollow. Enquanto os times do jogo do brejo em todo o país tentavam encontrar um passarinho para substituir o pomorim, Wright, que era um competente encantador de metais, mergulhou na tarefa de criar uma bola que imitasse o comportamento e os padrões de vôo do pomorim. É absolutamente óbvio que ele foi bem-sucedido pelos muitos rolos de pergaminho que nos deixou ao morrer (hoje em poder de um colecionador particular), nos quais registra as muitas encomendas que recebeu de todo o país. O pomo de ouro, nome que Bowman deu à sua criação, era uma bola do tamanho de uma noz com o peso exato de um pomorim. Suas asas prateadas foram dotadas de juntas rotativas como as do passarinho, que lhe permitiam mudar de direção com a velocidade de um relâmpago e a precisão do seu modelo vivo. Ao contrário do pomorim, no entanto, o pomo fora enfeitiçado para permanecer dentro dos limites do campo. Podemos dizer que a introdução do pomo de ouro encerrou o processo iniciado trezentos anos antes no brejo de Queerditch. Nascia realmente o quadribol.






segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

QUADRIBOL ATRAVÉS DOS SÉCULOS - Capítulo 3





CAPÍTULO TRÊS
O Jogo do Brejo de Queerditch


Devemos o nosso conhecimento das rústicas origens do quadribol aos escritos da bruxa Trude Keddle, que viveu às margens do brejo de Queerditch no século XI. Felizmente para nós, ela mantinha um diário, hoje no Museu do Quadribol em Londres. Os trechos citados a seguir foram traduzidos do original saxônio, repleto de erros de ortografia.

Terça-feira. Quente. Aqueles marginais da outra margem do brejo andaram aprontando outra vez. Às voltas com aquele jogo idiota montados em vassouras. Uma bola enorme de couro veio parar na minha horta de repolhos. Azarei o homem que veio buscá-la. Quero ver ele voar ajoe0hado de trás para a frente, porção peludo.

Terça-feira. Chuvoso. Entrei no brejo para colher urtigas. Os idiotas com as vassouras jogavam outra vez. Têm uma bola nova que atiram uns para os outros e tentam acertar em troncos de cada lado do brejo. Uma brincadeira inútil.

Terça-feira. Ventoso. Gwenog veio tomar chá de urtigas, depois me convidou para passear. Acabamos assistindo àqueles retardados jogarem o tal jogo do brejo. O bruxo grandalhão escocês que mora no alto do morro estava lá. Agora jogam com duas pedras pesadas que voam pelo ar e tentam derrubá-los das vassouras. Infelizmente isso não aconteceu enquanto eu estava assistindo. Gwenog me contou que, muitas vezes, até ela participa desse jogo. Voltei para casa chateada.

Estes excertos nos revelam muito mais do que Trude Keddle poderia ter imaginado, além do fato de que ela só conhecia um dia da semana. Em primeiro lugar, a bola que caiu em sua horta de repolhos era feita de couro, como a moderna goles — com certeza era difícil atirar com precisão a vesícula cheia de ar usada em outros jogos com vassouras da época, particularmente em dias ventosos. Em segundo lugar, Trude nos informa que os homens “tentavam acertar a bola nos troncos de cada lado do brejo” — ao que parece uma forma primitiva de marcar gols. Em terceiro lugar, ela nos permite formar uma vaga idéia dos precursores dos balaços. É interessantíssimo que estivesse presente o tal “bruxo escocês grandalhão”. Teria sido um jogador de Rachacrânio? Seria idéia dele enfeitiçar pedras pesadas para fazê-las voar ameaçadoramente pelo campo, inspirada nos pedregulhos usados no jogo de sua terra natal?
Não encontramos outras menções do esporte praticado no brejo de Queerditch até um século mais tarde quando o bruxo Goodwin Kneen tomou a pena para escrever ao seu primo norueguês, Olavo. Kneen vivia em Yorkshire, o que comprova a disseminação do esporte por toda a Grã-Bretanha nos cem anos que decorreram desde que Trude Keddle o assistia. A carta de Kneen encontra-se nos arquivos do Ministério da Magia norueguês.

Caro Olavo,
Como vai você? Eu estou bem, embora Gunhilda ande com uma cataporazinha de dragão.
Participamos de uma animada partida de Jogo do Brejo na noite de sábado, ainda que a coitada da Gunhilda não estivesse se sentindo em condições de jogar como pegadora e precisássemos substituí-la por Radulfo, o ferreiro. O time de Ilkley jogou bem ainda que não fosse páreo para nós, porque andamos praticando o mês inteiro e marcamos quarenta e dois gols. Radulfo levou um pedraço na testa porque o velho Ugga não foi bastante rápido com a maça. Os novos barris para marcação de gols funcionaram bem. Três na ponta de cada estaca, doados pela dona da estalagem. Ela nos serviu quentão de graça a noite inteira porque ganhamos a partida. Gunhilda ficou meio aborrecida porque voltei para casa tão tarde. Fui obrigado a me desviar de umas azarações bem ruinzinhas que ela me lançou, mas agora já recuperei meus dedos.
Estou despachando esta carta pela melhor coruja que tenho, na esperança de que ela chegue aí.
Seu primo,
Goodwin

Por esta carta podemos avaliar como o jogo havia progredido em um século. A mulher de Goodwin devia ter jogado de “pegadora” — provavelmente o nome antigo para artilheira. O “pedraço” (sem dúvida o balaço) que atingiu Radulfo, o ferreiro, deveria ter sido rebatido por Ugga, que obviamente estava jogando como batedor, pois usava um bastão. Os gols já não eram troncos, mas barris no alto de estacas. No entanto, continuava a faltar um elemento essencial ao jogo: o Pomo de Ouro. O acréscimo da quarta bola do quadribol só foi ocorrer em meados do século XIII e de maneira curiosa.






domingo, 26 de janeiro de 2014

QUADRIBOL ATRAVÉS DOS SÉCULOS - Capítulo 2





CAPÍTULO DOIS
Os Jogos Antigos com Vassouras


Os esportes com vassouras surgiram assim que as vassouras se aperfeiçoaram o suficiente para permitir aos pilotos fazerem curvas e variar de altitude e velocidade. Os textos e pinturas mágicos da Antigüidade nos dão uma idéia dos jogos praticados pelos nossos antepassados. Alguns já não existem; outros sobreviveram ou evoluíram até se tornarem os esportes que hoje conhecemos.
A famosa Annual Broom Race (Corrida Anual de Vassouras) da Suécia remonta ao século X. Os pilotos faziam o percurso Kopparberg-Arjeplog, uma distância pouco superior a 480 quilômetros. A rota atravessava uma reserva de dragões, e o imenso troféu de prata tem a forma de um Focinho-Curto sueco. Atualmente essa corrida se transformou em um evento internacional, e bruxos de todas as nacionalidades se reúnem em Kopparberg para torcer pelos jogadores à saída e em seguida aparatam até Arjeplog para cumprimentar os sobreviventes.
O famoso quadro Gunther der Gewalttàtige ist der Gewinner (Gunther, o violento, é o vencedor) datado de 1105, nos mostra o antigo jogo alemão do Stichstock (Furabexiga). Colocava-se uma bexiga de dragão, cheia de ar, no alto de uma baliza de seis metros de altura. Um jogador montado em uma vassoura tinha a função de proteger a bexiga. O guarda-bexiga era amarrado à baliza com uma corda passada na cintura, de modo que ele ou ela não pudesse se afastar mais de três metros do seu posto. Os demais jogadores se revezavam voando até a bexiga e tentando perfurá-la com os cabos especialmente aguçados de suas vassouras. O guarda-bexiga podia usar a varinha para repelir os atacantes. O jogo terminava quando a bexiga era finalmente perfurada ou o guarda conseguia azarar todos os oponentes, eliminando-os do jogo, ou ainda quando caíam de exaustão. O jogo do Furabexiga desapareceu no século XIV.
Na Irlanda floresceu o jogo do Aingingein (Fogaréu), tema de muitas baladas irlandesas. Contam que o lendário bruxo Fingal, o destemido, foi campeão de Fogaréu. Um a um, os jogadores arrebatavam o dom ou bola (na realidade a vesícula de um bode) e atravessavam correndo uma série de barris em chamas erguidos no ar por estacas. O dom era, então, atirado através do último barril. O jogador que conseguisse atirá-lo no menor tempo, sem ter ele mesmo pegado fogo no caminho, era o vencedor.
A Escócia foi o berço do jogo com vassouras provavelmente mais perigoso de todos — Creaothceann (Rachacrânio). O jogo é descrito em um poema trágico gaélico, do século XI, cuja tradução do primeiro verso é a seguinte:

Juntos, os jogadores, doze homens de força e coragem,
Caldeirões afivelados, aguardavam em posição
Que a trompa soasse para saírem velozes pelo ar.
Mas, dentre eles, dez voavam ao encontro da morte.

Cada jogador do Rachacrânio usava um caldeirão afivelado à cabeça. Ao som da trompa ou do tambor, umas cem pedras e pedregulhos enfeitiçados, que pairavam a trinta metros de altura, começavam a cair em direção ao solo. Os jogadores voavam para cá e para lá tentando recolher o maior número possível de pedras em seus caldeirões. Considerado por muitos bruxos escoceses o supremo teste de virilidade e coragem, o Rachacrânio gozou de grande popularidade na Idade Média, apesar do número de fatalidades que causava. O jogo foi proibido em 1762, e embora Magno Macdonald, o Cabeça Amassada, liderasse uma campanha para sua reintrodução na década de 1960, o Ministério da Magia se recusou a revogar a proibição.
A Shuntbumps (Derrubada) foi um jogo popular em Devon, Inglaterra. Era uma forma rústica de justa com o único objetivo de desmontar da vassoura o maior número possível de jogadores, saindo vencedor o último combatente a permanecer montado.
O Swivenhodge (Malhaporco) começou em Herefordshire. Tal como o Furabexiga, esse jogo envolvia uma vesícula cheia de ar, em geral a de um porco. Os jogadores montavam as vassouras de trás para frente e batiam na bexiga para cá e para lá, por cima de uma sebe, com a palha das vassouras. O jogador que errava marcava um ponto para o adversário. O primeiro a acumular cinquenta pontos era o vencedor.
O Malhaporco ainda é jogado na Inglaterra, embora nunca tivesse alcançado grande popularidade; a Derrubada sobrevive apenas como jogo infantil. Entrementes, no brejo de Queerditch, surgira um jogo que um dia iria se tornar o mais popular do mundo dos bruxos.






sábado, 25 de janeiro de 2014

QUADRIBOL ATRAVÉS DOS SÉCULOS - Capítulo 1





CAPÍTULO UM
A Evolução da Vassoura Voadora


Nenhum feitiço inventado até hoje permite aos bruxos voarem apenas com os recursos de sua forma humana. Os poucos animagos que se transformam em animais alados podem voar, mas são raros. A bruxa ou o bruxo que se vê transformado em um morcego pode levantar vôo, mas, possuindo um cérebro de morcego, com certeza vai esquecer aonde queria ir no momento em que deixar o chão. A levitação é uma prática comum, mas os nossos antepassados não se contentaram em planar a um metro e meio do chão. Quiseram mais. Quiseram voar como pássaros, mas sem a inconveniência de ter o corpo coberto de penas.
Hoje, estamos tão habituados à idéia de que todas as casas de bruxos na Grã-Bretanha dispõem no mínimo de uma vassoura que raramente paramos para nos perguntar qual é a razão disso. Por que a humilde vassoura iria se tornar o único objeto legalmente aceito como meio de transporte bruxo? Por que nós, no Ocidente, não adotamos o tapete voador tão apreciado pelos nossos irmãos orientais? Por que não preferimos produzir barris voadores, poltronas voadoras, banheiras voadoras - por que vassouras?
Bastante perspicazes para compreender que seus vizinhos trouxas procurariam explorar seus poderes, se conhecessem o seu alcance, os bruxos e bruxas ficavam quietos em seus cantos muito antes de o Estatuto
Internacional de Sigilo em Magia entrar em vigor. Se pretendessem guardar um veículo de transporte em casa, teria de ser algo discreto, fácil de esconder. A vassoura era ideal para isso; não exigiria explicação nem desculpa se fosse encontrada pelos trouxas, era portátil e de baixo custo. No entanto, as primeiras vassouras enfeitiçadas para voar tiveram os seus senões.
Há registros de que os bruxos e bruxas europeus já estavam usando vassouras em 962 d.C. Uma iluminura alemã desse período mostra três bruxos desmontando suas vassouras com expressões de estranho mal-estar no rosto. Guthrie Lochrin, um bruxo escocês, escreveu em 1107 que teve as "nádegas cravadas de farpas e as hemorróidas inflamadas" depois de um breve vôo de vassoura de Montrose a Arbroath.
Uma vassoura medieval exibida no Museu do Quadribol, em Londres, nos dá uma idéia das razões para o mal-estar de Lochrin (ver Fig. A). Um cabo de freixo nodoso e sem verniz, com gravetos de amendoeira amarrados toscamente a uma ponta, não é nem confortável nem aerodinâmico. Os feitiços lançados sobre as vassouras eram igualmente básicos: ela podia se deslocar apenas para a frente e a uma dada velocidade; subia, descia e parava.
Naquele tempo, as famílias bruxas confeccionavam as próprias vassouras, por isso havia uma enorme variação na velocidade, no conforto e no manuseio desse meio de transporte de que dispunham. Por volta do século XII, no entanto, os bruxos já haviam aprendido a trocar serviços entre si, a fazer escambo, de modo que um mestre artesão de vassouras podia trocá-las pelas poções que seu vizinho soubesse preparar melhor que ele. Quando as vassouras se tornaram mais confortáveis, os bruxos passaram a voá-las por diversão e não apenas para se transportarem do ponto A ao ponto B.







sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

QUADRIBOL ATRAVÉS DOS SÉCULOS - Prefácio





PREFÁCIO


Quadribol através dos séculos é um dos títulos mais procurados da biblioteca escolar de Hogwarts. Madame Pince, nossa bibliotecária, me informa que o livro é "manuseado, babado e de um modo geral maltratado" diariamente — o que é um enorme elogio para qualquer livro. Quem joga ou assiste ao quadribol regularmente apreciará esta obra do Sr. Whisp, bem como os que se interessam de uma maneira mais ampla pela história da bruxaria. Do mesmo modo que fomos inventando o jogo de quadribol, ele também nos inventou; o quadribol une bruxos e bruxas de todas as posições sociais e os reúne para compartilhar momentos de euforia, vitória e desespero (no caso dos torcedores dos Chudley Cannons [Canhões de Chudley]).
Foi com alguma dificuldade, devo confessar, que convenci Madame Pince a me entregar um dos seus exemplares para poder mandar copiá-lo e, dessa maneira, torná-lo acessível a um número maior de leitores. De fato, quando lhe contei que ia copiá-lo para que os trouxas pudessem lê-lo, ela não só perdeu temporariamente a fala como também não se mexeu ou piscou durante vários minutos. Quando voltou a si, teve a consideração de me perguntar se eu perdera o juízo. Tive, então, o prazer de tranqüilizá-la a esse respeito e de lhe explicar minhas razões para tomar essa decisão sem precedentes.
Os leitores trouxas não precisam que eu lhes diga o que é o trabalho do Comic Relief, mas vou repetir a explicação que dei à Madame Pince para benefício das bruxas e dos bruxos que comprarem o presente livro. O Comic Relief é uma obra que usa o riso para combater a pobreza, a injustiça e a calamidade. A alegria que a obra espalha é convertida em grandes somas de dinheiro (174 milhões de libras desde que começou em 1985 - mais de 34 milhões de galeões). Todos os envolvidos em trazer este livro até você, desde o autor até a editora; fornecedores de papel, gráficas, enca-dernadores e livreiros, contribuíram com seu tempo, energia e material gratuito ou a preços reduzidos, fazendo com que os lucros obtidos com sua venda fossem destinados a um fundo aberto em nome de Harry Potter pela Comic Relief U.K. e por J.K. Rowling. Este fundo foi criado especificamente para ajudar crianças necessitadas ao redor do mundo. Quando você comprar este livro — e eu o aconselharia a comprá-lo porque se ficar folheando o livro sem pagar vai descobrir que foi atingido pelo Feitiço contra Ladrão —, você também estará contribuindo para a missão mágica do Comic Relief.
Eu estaria enganando meus leitores se dissesse que essa explicação deixou Madame Pince mais feliz em ceder um exemplar da biblioteca para os trouxas. Ela sugeriu várias alternativas tais como dizer ao pessoal do Comic Relief que a biblioteca pegara fogo ou simplesmente fingir que eu morrera sem deixar instruções. Quando respondi que, de um modo geral, eu preferia continuar a seguir o meu plano original, ela concordou, com relutância, em me entregar o exemplar, ainda que na hora de soltá-lo tivesse perdido a coragem me obrigando a forçá-la a abrir cada um dos dedos com que apertava a lombada do livro.
Embora eu tenha desfeito os feitiços normais que são lançados sobre um livro de biblioteca, não posso prometer que não tenha restado algum vestígio neste exemplar. Todos sabemos que Madame Pince acrescenta azarações incomuns aos livros sob seus cuidados. Eu próprio, no ano passado, manuseei distraidamente um exemplar de Teorias das transformações transubstanciais e, no momento seguinte, o livro começou a me bater com força na cabeça. Por favor tenha cuidado com sua maneira de tratar este livro. Não arranque páginas. Não o deixe cair na água do banho. Não posso prometer que Madame Pince não vá assediá-lo de repente, onde quer que o encontre, para exigir o pagamento de uma pesada multa.
Agora só me resta agradecer o seu apoio ao Comic Relief e pedir aos trouxas que não experimentem jogar quadribol em casa; é claro que se trata de um esporte inteiramente fictício e ninguém o joga de verdade. Gostaria ainda de aproveitar a oportunidade para desejar ao Puddlemere United (União de Puddlemere) o maior sucesso em sua próxima temporada.